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"EU DESLIGO SE OS MEUS PAIS DESLIGAREM"
"EU DESLIGO SE OS MEUS PAIS DESLIGAREM"
Opinião | Rosário Carmona e Costa, psicóloga*
Uma das maiores ironias dos nossos tempos é esta: toda a tecnologia que é suposto manter-nos ligados 24 horas/sete dias por semana é também a responsável por nos desligar daqueles que estão mais perto de nós.
Os adultos, ao tentarem justificar os seus comportamentos, vão repetindo para si mesmos que “este email demora um minuto a responder”; que “agora o meu chefe já sabe que já vi esta mensagem e tenho de responder num instante”; que “sou muito bom em multitasking”. Mas o problema é que as crianças não racionalizam da mesma forma que os adultos.
Quando o nosso filho, independentemente da sua idade, vê a mãe ou o pai constantemente agarrado ao telefone ou ao computador vai assimilando que esse ecrã, ou quem quer que esteja do outro lado, é mais importante do que ele próprio. Pais que agem desta forma passam constantemente uma mensagem subliminar de rejeição aos filhos que faz com que eles se sintam invisíveis. Com o tempo, as crianças começam a sentir-se curiosas e atraídas para estes aparelhos que tanto absorvem os pais – e que acabarão por substituir a atenção que não lhes foi dada.
Ainda que a preocupação com os ecrãs seja um tema necessariamente recente na história da ciência, a verdade é que começam a surgir os primeiros estudos que descrevem, de forma sólida e sustentada, o impacto da sua crescente utilização. Eis três conclusões bem elucidativas da urgência de dedicarmos uns minutos, enquanto pais ou educadores, a pensarmos sobre a utilização que fazemos das novas tecnologias:
- Filhos que têm pais “tecnologicamente negligentes” passam mais 30 minutos por dia do que os outros a ver televisão, a jogar videojogos ou envolvidos em qualquer outro tipo de ecrã (Journal of Early Child Development and Care);
- Rapazes cujos pais assistem a mais de quatro horas por dia de televisão têm 10 vezes mais probabilidades de desenvolver hábitos desajustados e pouco saudáveis na relação com a televisão e outras novas tecnologias (Aric Sigman, British Psychological Society);
- A falta de autocontrolo dos pais em qualquer área de vida é um forte indicador do défice de competências de autocontrolo nos filhos (The Parent Coach).
De facto, cuidar dos nossos filhos é também lembrarmo-nos de que precisamos de ser bons modelos na forma como nos relacionamos com um mundo em que eles passam muitas horas: o mundo virtual. Está na hora de nós, os adultos, refletirmos seriamente sobre o nosso comportamento com as novas tecnologias.
*Especialista em Adição à Internet, Cyberbullying e Psicologia da Web, autora do livro “i Agora? Liberte os seus filhos da dependência dos ecrãs” (A Esfera dos Livros, 2017)
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