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“Devo ou não partilhar o diagnóstico de autismo com o meu filho?”
“Devo ou não partilhar o diagnóstico de autismo com o meu filho?”
Opinião | Joana Fernandes, Psicóloga Clínica
Este perfil é então partilhado com os pais e, quando falamos sobre autismo, normalmente focamo-nos nas dificuldades e nos desafios que esta perturbação do neurodesenvolvimento acarreta. Muitas vezes, o diagnóstico auxilia os pais na compreensão dos comportamentos e das emoções da criança e repensar as estratégias para lidar com todas as dificuldades.
De acordo com alguns estudos, alguns dos receios dos pais na partilha do diagnóstico incluem a possível estigmatização, o receio que o filho possa ser vítima de bullying pelos pares e que isso possa aumentar a ansiedade dos seus filhos.
Contrariamente a estes receios, outros pais consideram que a partilha do diagnóstico pode ser fundamental para a identidade da criança e ajudá-la a compreender-se melhor.
Independentemente das opiniões, qualquer partilha deste género deve ser bem ponderada. Por um lado, a idade da criança deve ser sempre considerada. É importante que a criança já tenha capacidade e maturidade para compreender o diagnóstico e a sua natureza.
Alguns estudos destacam que, as crianças que sabem o diagnóstico mais tardiamente, normalmente já têm algum tipo de estigma internalizado sobre o autismo e outras perturbações, o que pode tornar mais desafiante a aceitação do seu próprio diagnóstico. Por outro, deve existir um contexto que justifique falar sobre o tema.
Normalmente quando as crianças já têm consciência das suas dificuldades e compreendem que têm comportamentos diferentes dos seus pares, começam a questionar os motivos que os levam a ser assim, e aí talvez seja um bom momento para partilhar o diagnóstico.
A verdade é que a investigação tem demonstrado que a partilha do diagnóstico desde cedo com os filhos tem-se revelado fundamental no processo de identificação pessoal e maior confiança na adesão ao processo de promoção de competências.
Então, como devemos fazê-lo? Em primeiro lugar, é importante criar um ambiente seguro e descontraído com a criança; de seguida, explorar possíveis dificuldades e competências que existem entre as pessoas, compreender o que une as pessoas e o que as diferencia (começar por pensar nos familiares mais próximos e depois nos pares). Um elemento muito importante desta conversa é procurar não focar apenas nas limitações, mas também nos aspetos positivos.
Ao contrário do que se possa pensar, o autismo não é apenas caracterizado por défices, mas também vem, com frequência, acompanhado de “superpoderes”. Ter interesses muito específicos normalmente conduz a uma ultra-especialização sobre um determinado tema.
A parte interessante é que há pessoas que estudam imensos anos para terem esse tipo de especialização. A capacidade de memorização de factos e informação é de tal ordem que parecem um pequeno disco externo ambulante, com um conhecimento acima do comum, quase enciclopédico. A racionalidade e o reconhecimento de padrões lógicos são outros dos superpoderes que podemos encontrar nestas crianças.
Assim, de um modo geral, a partilha do diagnóstico é um direito de todos mas deve ser feita de forma conscienciosa. Focar não só nas dificuldades, mas também nos superpoderes ajudará a criança a compreender-se um pouco melhor e a formar a sua identidade individual. Afinal, todos temos aspetos a melhorar, mas também aspetos que nos tornam especiais e únicos. E já agora, já pensou no seu superpoder?
Joana Fernandes
Psicóloga Clínica
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