Tudo o que precisa de saber sobre a vacinação de crianças contra a Covid-19

As crianças a partir dos 5 anos já podem ser vacinadas contra a covid-19, mediante autorização dos pais. No entanto, este não é um tópico isento de controvérsias. Depois de um intenso debate que dividiu especialistas, o parecer foi favorável, mas as dúvidas em alguns educadores persistem.

Neste artigo, Joana Malta, médica assistente de medicina geral e familiar, dá resposta às preocupações mais frequentes das famílias. Para tomar decisões conscientes e garantir a segurança dos mais novos, é essencial estar bem informado.

Joana Malta (JM) - Em Portugal, a Direção Geral da Saúde (DGS), baseada em relatórios do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) e da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), concluiu, com base na avaliação de risco-benefício, que está recomendada a vacinação universal das crianças com 5 a 11 anos. Salienta-se que é considerada prioritária a vacinação de crianças com doenças crónicas consideradas de risco para a forma grave de covid-19.

JM - Dos relatórios das entidades já referidas, averiguou-se que a vacinação destas crianças leva a uma redução significativa da probabilidade de infeção pelo vírus. Naquelas que se infetam, há uma redução da probabilidade de internamento hospitalar, por motivo de doença grave. Contribuiu ainda para o bem-estar mental da criança, pois gera sentimentos de segurança e, ao reduzir o número de infeções, reduz o absentismo escolar e os efeitos deletérios psicológicos e sociais dos isolamentos.

JM - Tem havido um grande debate que divide a comunidade médica sobre a administração da vacina nesta faixa etária, que ainda não está totalmente resolvida. Por um lado, relacionada com questões de segurança, nomeadamente os riscos de miocardite e pericardite que, mesmo sendo raros, podem ocorrer. Por outro lado, por acharem pouco relevante vacinar as crianças, uma vez que a vacina não impede realmente que a infeção ocorra (sobretudo com variante Omicron) e porque as crianças só muito raramente apresentam a forma grave de covid-19. Como tal, alguns clínicos consideram que face aos benefícios modestos e aos eventuais riscos, esta faixa etária não deve ser vacinada.

E&O - Verificou-se que a variante Omicron afetou bastante as camadas mais jovens. A vacina é eficaz em proteger as crianças contra esta variante?

JM - Sim, embora a vacinação seja menos eficaz a impedir a doença com esta variante, ainda assim, as evidências mais atuais são de que reduz significativamente o número de internamentos por doença grave.

JM - Os efeitos secundários de vermelhidão e dor no local da injeção, cansaço, dor de cabeça e febre, associados à toma da vacina nesta faixa etária, são semelhantes aos que ocorrem noutros grupos etários.  Estão descritos casos de pericardite e de miocardite em crianças vacinadas, apesar de, na generalidade dos casos, até à data, a doença se ter manifestado de forma benigna e com evolução favorável.

JM - Embora a vacina não impeça totalmente a infeção por covid-19 em crianças, há dados que indicam que reduz a probabilidade de serem infetados e de transmitir o vírus a terceiros. Além disso, ao reduzir o número de infeções, reduz também o impacto nas famílias e, a nível social, reduz nomeadamente o absentismo escolar e laboral.

JM - A vacinação contra a covid-19 para crianças entre 5 e 11 anos poderá ser agendada em qualquer ponto de vacinação, preferencialmente no local de residência. A lista pode ser consultada no site da DGS.