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Skin-Picking No Autismo – Como Identificar e Intervir
Skin-Picking No Autismo – Como Identificar e Intervir
Saúde | Fonte: PIN - Centro de desesnvolvimento
Skin-Picking? Conhece? Uma palavra estranha, peculiar até, igualmente conhecida por Perturbação de Escoriação. Tornou-se mais familiar? Possivelmente não.
A Perturbação de Escoriação, reconhecida também como Skin-Picking, trata-se de uma Perturbação do Espectro Obsessivo-Compulsivo, que se caracteriza pela presença de comportamentos repetitivos e/ou ritualizados de lesão cutânea, que correm regularmente durante o dia por um período prolongado. Por outras palavras, os agentes educativos devem ficar alerta a comportamentos repetitivos e recorrentes de beliscar, morder, raspar, puxar e sugar a própria pele, causando feridas ou lesões significativas, como infecções e cicatrizes.Perante o comportamento autolesivo são observadas tentativas repetitivas de reduzir ou parar, com identificação de sofrimento e de prejuízo social, emocional e funcional, resultando na demonstração de vergonha social (i.e., esconder ou evitamento de situações sociais devido à sua aparência), constrangimento e culpa.
Deverá ser tida em consideração que o presente comportamento não resulta de efeitos fisiológicos ou de outras condições médicas (i.e., escabiose, comumente conhecida como sarna), bem como avaliar e distinguir o comportamento repetitivo focado no corpo de uma intenção consciente de se ferir, que é uma característica da automutilação não-suicida.
O comportamento de Skin-Picking ocorre mais frequentemente em zonas do corpo como o rosto, braços e mãos, porém pode ocorrer igualmente noutras zonas corporais, tal como as pernas.
O comportamento compulsivo poderá ser diagnosticado sem a presença de outras perturbações de neurodesenvolvimento ou psiquiátricas, ou em comorbilidade com outras perturbações, como a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA). Do que é conhecido não existem ainda estudos conclusivos face à sua prevalência nas PEA’s ou se o seu surgimento se relaciona com o grau de severidade, contudo os estudos mais recentemente não demonstram correlação entre o surgimento do comportamento de skin-picking e o grau de severidade das PEA’s, mas da presença de hipersensibilidades sensoriais, alterações no processamento sensorial, presença de outros comportamentos obsessivo-compulsivo e de características de ansiedade moderada a severa. Na população em geral sabe-se a prevalência é de 1-5% e podem se apresentar em qualquer idade ou etapa de desenvolvimento do individuo.
Nas PEA’s o comportamento compulsivo poderá ser parte de um funcionamento desadaptativo de autorregulação, surgindo com uma estratégia para reduzir a ansiedade e uma forma de tranquilização, potencialmente resultante da ativação emocional induzida pelos eventos contextuais na ausência de comportamento adaptativo de enfrentamento ou de gestão da situação. Não obstante, o comportamento de skin-picking não ocorre exclusivamente na presença de ansiedade, os eventos e estados emocionais que despoletam o comportamento poderão ser variados, desde uma interrupção de rotina, aborrecimento em atividades de lazer ou contexto escolar e profissional, perceção de manchas na pele, observação de imperfeições, deteção de irregularidades na pele (invisíveis pela observação ocular) pela exploração tátil ou mesmo de cansaço.
No comportamento típico das PEA’s o comportamento de skin-picking tende a ocorrer com recurso às unhas, sendo menos típico o uso de pinças, alfinetes ou outros objetos.
Existem algumas questões que surgem frequente sobre o lesar a pele ou o arrancamento de espinha ou de peles, nomeadamente: "Não será natural os adolescentes rebentarem borbulhas e espinhas?" ou "Por vezes, tenho aquela pele que me incómoda e se prende na roupa ou magoa! É natural arrancar!". Será importante a diferenciação entre um comportamento pontual ou associado a uma etapa de desenvolvimento específica, os comportamentos compulsivos diferem no seu funcionamento de uma preocupação ou ritual típico das diferentes fases de desenvolvimento por serem excessivos e persistirem além dos períodos apropriados ao nível de desenvolvimento.Será importante compreender que o comportamento poderá ocorrer em pele saudável, irregularidades e pequenas imperfeições na pele, ou em lesões como espinhas, borbulha, calosidades ou nas crostas de lesões anteriores. Habitualmente o aparecimento de acne poderá acentuar o comportamento, mas não é o factor principal que explica o surgimento do comportamento. Se pensarmos nas Perturbações do Espetro do Autismo as questões sensoriais poderão exacerbar o comportamento repetitivo na presente fase, pelas alterações no processamento sensorial, que poderão assumir-se como sensibilidade a determinadas texturas da pele, maior tolerância à dor e/ou incómodo com imperfeições visuais observadas na pele.
Quando surge o diagnóstico de uma Perturbação de Escoriação ou Skin-Picking são ponderadas dois tipos de intervenção terapêutica, a farmacológica e a intervenção cognitivo-comportamental, com integração da compreensão do processamento sensorial e da função do comportamento no funcionamento e gestão das emoções nas Perturbações do Espetro do Autismo. A intervenção psicológica procura fomentar a aprendizagem de novas estratégias de regulação emocional, reorganização de rotinas, dessensibilização sensorial e promover a tolerância ao desconforto e introdução de estratégias de hábito reverso, com a integração do aumento da consciência do comportamento compulsivo, treino de uma resposta comportamental em substituição ao comportamento de skin-picking, que poderá ser um substituto sensorial.
Artigo desenvolvido por:
Catarina Carreto | Psicóloga Clínica
PIN - Centro de Desenvolvimento
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