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Será o sofrimento das crianças muito distinto do dos adultos?
Será o sofrimento das crianças muito distinto do dos adultos?
Opinião | Inês Loio & Rita Santos, Psicólogas Clínicas - Consulta da Ansiedade PIN Porto
Enquanto humanos, possuímos uma capacidade fabulosa de relacionar, ou seja, de criar ligação entre as coisas. Estas conexões são feitas por todos, automaticamente, desde tenra idade.
Vejamos o seguinte exemplo: imaginem que se mostrarmos um boneco cujo nome é Pai Natal e se lhe dissermos que faz o som “oh oh oh”, podemos ter aqui duas relações, uma entre a imagem e o nome do boneco, e outra entre a imagem e o som que este faz.
Se perguntarmos qual é o som que o “Pai Natal” faz, o seu filho responderá “oh oh oh”, fazendo uma nova associação entre o nome e o som. Agora, imaginemos que ao mesmo tempo que o “Pai Natal” diz “oh oh oh”, alguém decide pregar uma partida e assustar o seu filho.
Muito provavelmente, numa próxima vez que mencionar a palavra “Pai Natal” a criança irá lembrar-se do susto que sofreu e até, eventualmente, chorar. Este exemplo parece insignificante, mas este processo é o mesmo que o do pensamento humano e do sofrimento.
De facto, enquanto adultos passamos muito tempo a relacionar tudo com tudo, transportando-nos frequentemente para o passado quando recordamos algo ou para o futuro quando antecipamos algo. E, à medida que as crianças se tornam cada vez mais verbais, tornam-se capazes de responder figurativamente a passados e futuros imaginados e, por isso, o sofrimento das crianças e adolescentes não é muito diferente do dos adultos.
Contudo, a sua expressão poderá diferir, e, por essa razão, a nossa atenção e cuidado é tão importante na resolução destas interpretações. Neste sentido, as crianças e adolescentes podem manifestar a sua ansiedade através de um aumento de queixas somáticas (p.e, dores de cabeça, de barriga), birras intensas, irritabilidade, choro, voltar a fazer xixi na cama, grandes dependências dos pais ou até comportamentos agressivos.
Não obstante, os estudos demonstram que a prevalência para o desenvolvimento de uma perturbação de ansiedade em adolescentes entre os 13 e os 18 anos é de cerca de 25% e durante a pandemia COVID-19 as crianças e adolescentes mostraram um aumento significativo de ansiedade, tendência esta que parece não ter diminuído apesar da normalização da pandemia.
Assim, como as crianças não têm a mesma experiência e o mesmo vocabulário ou expressão emocional que os adultos, pode ser fácil passar ao lado de queixas de ansiedade. Para que tal não aconteça, é essencial que os cuidadores estejam disponíveis para acolher os sinais que as crianças lhes trazem, com empatia e sem julgamento.
Se olharmos para os comportamentos da criança de uma forma curiosa, talvez consigamos redirecionar o nosso próprio comportamento de forma aceitante e compreensiva destas emoções, de forma a ajudá-las e orientá-las.
Desde cedo, as crianças são sensíveis à forma como os outros as percecionam e o cérebro humano foi desenhado para ser altamente sensível a sinais sociais como o tom de voz, o toque, as expressões faciais sendo altamente reguladores das suas emoções.
1. O primeiro passo é simples: ouvi-las! O simples ato de escuta pode prevenir que a ansiedade se instale. As crianças devem sentir-se compreendidas e é importante aceitarmos que, muitas vezes, não precisam de uma conclusão, de um conselho ou uma resolução - ser ouvido é suficiente. As crianças modelam o seu comportamento observando os seus adultos de referência, pelo que mantendo a calma e validando o que sentem, as crianças aprenderão que os pensamentos ansiosos ou as emoções mais desafiantes podem ser apenas ouvidas, compreendidas e acarinhadas, sem que tenham de ser afastadas.
2. Validar o que pensam e sentem e elogiar os esforços que têm feito ao tentar lidar com a sua ansiedade.
3 Estar atento às suas expectativas enquanto adultos - os medos e inseguranças das crianças não são os mesmos que os nossos, pelo que é necessário conhecer o desenvolvimento da criança.
4. Ajudar as crianças a reconhecerem e monitorizarem padrões de pensamentos ou de emoções que possam surgir quando se sentem ansiosas.
5. Aceitar o que as crianças estão a sentir num momento de ansiedade. É importante identificar as suas emoções e os pensamentos numa situação de stress, compreendendo que também a criança está em sofrimento e que, por vezes, nem tudo está ao alcance de ser resolvido.
Em casa, podemos utilizar diversos materiais e recursos que ajudarão a criança a sentir-se em controlo destes momentos mais difíceis ou desagradáveis. Contudo, a ansiedade poderá tornar-se desafiante nos diferentes contextos de vida da criança e, nesta situação, pedir ajuda a um técnico especializado, deverá ser uma opção a ter em conta para quebrar o ciclo.
Psicóloga Clínica - Consulta da Ansiedade PIN Porto
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