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Regresso às aulas em tempos de mudança
Regresso às aulas em tempos de mudança
Opinião | Nuno Lobo Antunes, Diretor Clínico do PIN
Neste regresso às aulas o Dr. Nuno Lobo Antunes deseja mais alunos com dúvidas e com coragem para errar, bem como professores que os inspirem para tal.
Sempre me interessou a questão dos “tempos”. Os ritmos com que evoluem as diferentes instituições da sociedade.
Falamos do tempo dos média, da Justiça, da evolução tecnológica, ou como o tempo passa a correr...
No meu tempo era assim, o tempo foge. Vamos com tempo.
Vem isto a propósito da transformação das escolas, como se adaptam aos novos tempos, ou antes, não se ajustam.
Continua a fazer sentido ensinar os “Lusíadas” ou os “Maias”. São marcos da nossa literatura, que surgem em contextos históricos particulares.
Seria interessante convidar para a aula de Português o professor de História que enquadrasse o texto nos acontecimentos daquela época.
E, quem sabe, também o professor de Geografia podia falar das fronteiras da Europa no século XIX, ou como se desenhavam os mapas quinhentistas.
Para isso, era necessário que a escola não assentasse num modelo rígido, burocrático na sua estrutura.
Ensinar dá tanto prazer!
Mas informar não chega, é preciso amassar o pão do conhecimento, a coerência da sua evolução, no entusiasmo e prazer que se obtém quando as peças do puzzle intelectual se encaixam e iluminam a cultura.
Os tempos agora são outros. A verdade parece ter encontrado alternativas diversas, conforme as correntes expressas nas redes sociais.
O bizarro tornou-se normal, o direito à opinião é aceite com o mesmo valor de um voto político, em que não há diferença entre os eruditos e os analfabetos.
Como tal, a política é muitas vezes guiada pela “opinião pública”, sem cuidar de saber se está bem formada e informada.
A função principal da escola é incentivar a procura da verdade.
Para isso é preciso dar aos alunos os instrumentos intelectuais que iluminem esse caminho.
Mais do que a certeza, implantar a dúvida.
Citar Richard Feynman, prémio Nobel da Física, que afirmava ser a Ciência a crença na ignorância dos peritos e que é importante, para avançar o conhecimento perder o respeito às autoridades, e duvidar sempre, na certeza do que se acredita hoje, pode ser falso amanhã.
Agora, talvez mais do que nunca, é necessário desde cedo fornecer os rudimentos de estatística para que se compreender a diferença entre correlação e causa/efeito, e todos os outros enviesamentos cognitivos que passam rasteiras à nossa lucidez.
O melhor antídoto para a manipulação e envenenamento intelectual causado por todas as formas de marketing, desde as redes sociais, à publicidade e aos discursos políticos, é uma sólida formação científica.
Não necessariamente o conhecimento, (importante), das leis da termodinâmica ou do teorema de Pitágoras, mas os alçapões onde a nossa mente se perde, e como os evitar. E já agora, a História das Ideias.
Para quem acredita que a Liberdade e a Democracia são heranças essenciais para as gerações futuras, a Escola deve, para além do saber factual, ser a Instituição que crie livres pensadores.
... que permita analisar com sentido crítico a informação que todos os dias nos inunda.
Raramente se ouve alguém dizer que não sabe ou que duvida. Que não está preparado ou que necessita de tempo para pensar.
A sociedade está dividida em fações dicotómicas, verdades absolutas e afirmações seguras.
Ninguém duvida, ninguém teme errar.
Se pudesse formular um desejo para o próximo ano escolar seria este: que traga muitos alunos que perguntem, e muitos professores que demonstrem a importância da humildade intelectual. Porque se aprende, sobretudo, quando se erra.
Diretor Clínico do PIN
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