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RECOMEÇAR COM OS MEUS E OS TEUS
RECOMEÇAR COM OS MEUS E OS TEUS
Educação | Fonte: Pin - Centro de Desenvolvimento
É possível que não seja um inferno. Começar de novo um projeto de vida a dois, integrando filhos de um lado e do outro é sempre um desafio enorme para o casal.
O desafio muitas vezes começa, quando num conjunto de atividades do quotidiano, passeios de fim de semana, jantares de família, idas ao supermercado, passam a ser vividos não a dois, mas sim a 4, 5, 6, 7 com crianças de um lado e do outro lado. Há um quotidiano que implica gerir os meus e os teus, criar uma razoabilidade que por vezes é difícil. Qual o meu papel, educar os meus filhos ou os teus? Será educar todos? Será que os teus filhos vão ser bons ou maus exemplos para os meus? Qual o modelo educativo que devemos como casal assumir? E as mães ou os pais das nossas crianças, a outra família que já ficou lá atrás, como é que vê o nosso projeto? Mil perguntas, todas naturais, mas que parecem desfazer a áurea de paixão da nova relação.
Perguntas desafiantes que precisam de um espaço e um tempo a dois reforçado. Por um lado, o espaço onde a descoberta da vida de casal a dois se vai construindo sem filhos, por outro lado um espaço no qual os filhos e a vida com todos, possam ser alvo de debate e reflexão. Obviamente que não existem receitas nem fórmulas mágicas, mas a nossa experiência clínica tem-nos permitido acompanhar algumas famílias com sucesso. Normalmente são famílias boas na clara definição de regras, limites e antecipação das rotinas. Esta habilidade implica que o novo casal combine entre eles e idealmente com as crianças as regras. A nova casa tem novas regras, vamos todos combinar! As regras da casa, são da casa. Não são tanto as regras da “tia” ou do “tio” (versão menos diabolizada de madrasta ou padrasto) ou do pai ou da mãe, mas sim as regras do novo espaço “familiar”. E quando as regras não são cumpridas?
Uma das texturas muito próprias de cada relação de parentalidade é a forma como o pai ou a mãe gerem o comportamento dos filhos, designadamente os comportamentos tidos pelos pais como menos adequados. Parece-nos importante que essas diferentes texturas sejam respeitadas e que possam ser integradas no novo quotidiano.
Há famílias que encontram um equilíbrio quase mágico, cada um dos pais quando estão todos juntos, assume a gestão de comportamento dos seus, principalmente nos temas mais quentes, e quando um dos pais sozinho está com todos, gere o grupo das crianças sem distinção dos meus e dos teus e sem recorrer à figura do pai ou da mãe ausente.
Por vezes parece-nos mais sensato evoluir para uma coabitação de modelos educativos, do que propriamente para a construção de um novo modelo único, que aos olhos dos filhos possa descaracterizar a relação que, até então, tinham com a mãe ou com o pai. A ideia de coabitação de mais do que um modelo educativo compete por vezes com a ideia da construção de uma família com um conjunto muito coerente de ideias e valores educativos. Talvez mais uma vez o segredo esteja na arte do equilíbrio de definir o que é necessariamente comum a todos e o que naturalmente é diferente no trato, nas aspirações que queremos para os nossos filhos.
No caso de se sentir a entrar no inferno e recorrendo-me a uma metáfora de uma crónica do Miguel Esteves Cardoso, sobre a vida a dois, lembre-se que existe um filho que é a relação de casal. No primeiro casamento este filho é o filho mais velho, aquele que nasceu primeiro do que os filhos de verdade. No segundo casamento, este é o filho mais novo, o que nasceu depois dos nossos filhos de verdade, contudo também é filho. Um filho mais novo que precisa de amor e espaço para crescer de forma a contagiar com a sua alegria o sentido da viagem da nova família.
Conteúdo desenvolvido pelo psicólogo clínico e terapeuta familiar e de casal:
Pedro Vaz Santos
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