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PREMATURIDADE NO FUTURO
PREMATURIDADE NO FUTURO
Opinião | Carla Almeida, Técnica de educação especial e reabilitação
O Afonso é uma das muitas crianças que nasceram prematuras em Portugal. Embora tenha sobrevivido e superado os inúmeros desafios dos seus primeiros tempos de vida, hoje em dia, com 3 anos de idade, continua a viver a prolongada história da prematuridade.
O início de vida tinha sido devastador para a família e extremamente desafiante para um bebé de apenas 800g. Várias semanas de internamento na neonatologia, ventilação, manobras invasivas, infeções, hemorragia, sondas, muitas especialidades médicas percorridas, num acumular de horas, obstáculos e muitas superações.
Mas agora, mais de 3 anos passados, era como se a prematuridade continuasse inevitavelmente presente nas suas vidas, muito para além das memórias dolorosas e das fotografias guardadas no telemóvel. Tudo seria explicado por este nascimento pré-termo? Se as suas dificuldades na linguagem, no desenvolvimento, na relação com os outros continuavam a ser atribuídas ao seu início de vida, quando é que deixaria de ser chamado de prematuro? Era uma forma de diagnóstico ou deveria ser olhada como uma causa do que era agora um conjunto de sequelas? No mesmo recreio corria uma menina nascida com 27 semanas, aparentemente sem qualquer impacto do seu desenvolvimento. Então porque é que o “preço” da prematuridade nela não parecia ser o mesmo?
A diversidade entre as crianças que nasceram prematuras é bastante significativa, mas a história do Afonso repete-se inúmeras vezes. Pode morar em muitas das crianças que se depararam com um nascimento precoce,numa etapa em que o seu desenvolvimento neuronal se encontrava ainda frágil e extremamente sensível às “agressões” de um meio hospitalar.
As sequelas que poderão resultar da incrível superação de nascer várias semanas antes do previsto, são reais e frequentes. Vários estudos longitudinais encontram sequelas motoras, cognitivas, ao nível da atenção ou do comportamento.
As semanas de gestação, o peso, as intercorrências durante o internamento contribuem para os possíveis problemas resultantes no futuro. E embora crianças como o Afonso possam ter na prematuridade a causa das suas dificuldades, no dia de hoje poderá ser necessário outro diagnóstico para melhor compreender e ajudar o seu quadro global.
As terapias assumem um papel de extrema importância na vida destas crianças e destas famílias que já têm na sua história tantos desafios. Mas para isso é importante não olhar apenas para o passado mas para o capítulo presente. Importa avaliar o desenvolvimento tendo em conta a idade corrigida e traçar as melhores respostas terapêuticas. Porque se a página atual resultou do começo da história, as páginas seguintes dependem de como olhamos e agimos no presente. E talvez a frase tão repetida, deva ser corrigida e completada: “É porque foi uma criança prematura, mãe... E por isso temos agora outros desafios pela frente para enfrentarmos juntos”.
Carla Almeida, Técnica de educação especial e reabilitação
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