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Porque é tão importante alertar as famílias para a prevenção do afogamento infantil?
Porque é tão importante alertar as famílias para a prevenção do afogamento infantil?
Segurança | Fonte: Apsi - Associação para a Promoção da Segurança Infantil
O Dia Mundial da Prevenção do Afogamento assinala-se a 25 de julho. Assim, a APSI - Associação para a Promoção da Segurança Infantil alerta para os cuidados a ter, especialmente durante o verão, já que os afogamentos continuam a ser a segunda maior causa de morte acidental nas crianças e jovens em Portugal.
Segundo os estudos da APSI, o registo dos números de mortes por afogamento em crianças e jovens, em 2020 e 2021, revelam-se superiores aos anos anteriores, reforçando a importância de sensibilizar a população para este tema.
Em entrevista com a Estrelas & Ouriços, a APSI reflete sobre as causas deste acidente e ajuda a delinear estratégias para o prevenir.
Estrelas & Ouriços (E&O): A 25 de julho celebra-se o Dia Mundial de Prevenção do Afogamento, estabelecido pelas Nações Unidas. Qual a importância desta data para alertar para eventuais riscos?
Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI): Estas datas, celebradas a nível mundial, são sempre importantes para alertar para problemas que exigem um olhar multidisciplinar para a sua resolução. Os afogamentos são um problema grave de saúde pública, tanto a nível mundial como europeu, com uma tendência de aumento do número de casos, em alguns países, desde 2020. Além das mortes (236.000/ano no mundo e 23.000 /ano na Europa), não podemos esquecer que milhares de pessoas ficam com incapacidades definitivas resultantes de afogamentos não fatais, como por exemplo lesões neurológicas permanentes, que implicam custos económicos continuados, com grande impacto financeiro ao longo da vida. As crianças são um dos grupos mais vulneráveis e expostos ao risco de afogamento.
A morte por afogamento é silenciosa e rápida, além de ser um problema pouco conhecido e reconhecido. Implica custos económicos continuados, estimando-se que sejam os acidentes com maior impacto financeiro ao longo da vida. No caso das crianças acarretam grave comprometimento da qualidade de vida da criança e da sua família.
E&O: Em Portugal, o afogamento é a segunda maior causa de morte acidental nas crianças. Porque crê que isto acontece?
APSI: O afogamento é silencioso e rápido, acontece em muito pouca água e por vezes, com os adultos por perto. Estes não têm consciência destas características do afogamento e sobretudo nos ambientes que lhes são familiares, têm dificuldade em reconhecer o risco deste acontecimento trágico.
Todos os anos nascem novas famílias que precisam de ser alertadas para que os bebés podem sofrer acidentes desde os primeiros dias ou meses de vida. No caso dos afogamentos, sabendo-se que 80% dos casos podem ser evitados, é fundamental saberem como acontecem nas diversas faixas etárias, assim como quais são as estratégias de prevenção mais adequadas para cada idade.
Contudo, nenhuma estratégia de prevenção é, por si só, suficiente para evitar o afogamento e reduzir as suas consequências, pois há um leque diversificado de fatores de risco que exigem a implementação de estratégias múltiplas e complementares. É fundamental que haja medidas de intervenção a diferentes níveis (antes, durante e depois do acidente), que passam, por exemplo, pela adaptação do ambiente físico às características e comportamentos previsíveis das crianças, jovens e adultos (colocação de barreiras físicas, sinalização, meios de salvamento), pelo desenvolvimento de competências aquáticas, pela utilização de equipamento de flutuação individual, uma supervisão ativa e próxima e ainda uma intervenção adequada em caso de afogamento.
E&O: Como é que a APSI tem vindo a atuar para prevenir estas situações?
APSI: Desde 2003, com o lançamento da 1.ª Campanha de Prevenção de Afogamentos, que a APSI tem vindo a levar a cabo campanhas anuais em que revela o número de casos fatais, o número de internamentos, onde e como aconteceram em cada faixa etária, o que é que falhou para que acontecessem, o que poderia ter sido feito antes para evitar cada caso. Os cidadãos em geral têm sido informados para o que está nas suas mãos fazerem, como podem melhorar o ambiente em que vivem ou alterar alguns dos seus comportamentos. Por exemplo, perceberem que a vigilância falha facilmente, sobretudo nos dias de festa, com muita gente reunida num local onde há uma piscina ou tanque, que nunca devem deixar um bebé sozinho, nem por breves segundos, na banheira ou numa piscina insuflável, que devem despejar todos os recipientes com água mal acabam de os utilizar, vedar piscinas e tanques e tapar poços…
A nível político, também tem havido alertas permanentes para a necessidade urgente de criar uma legislação aplicável a todo o tipo de piscinas, que inclua vários requisitos de segurança relacionados com a sua construção, operação e manutenção, mas também a sua proteção, através da colocação de uma barreira vertical. Isto a par de recomendações para incluir nos currículos escolares a aprendizagem da natação, a educação para a segurança na água e o salvamento aquático seguro.
E&O: Por vezes, falta informação da parte dos pais. Como chegar a eles para educar para esta problemática?
APSI: A imagem do ursinho afogado, utilizada em todas as Campanhas de Prevenção de Afogamentos, tem tido um forte impacto nos pais e outros cuidadores, quando divulgada nos diversos Órgãos de Comunicação Social que gentilmente nos cedem espaço gratuito: anúncios impressos em jornais e revistas, spot TV divulgado em canais de televisão, spots de rádio difundidos por diversas estações, por todo o país. Além disso, muitas entrevistas — como esta! — e artigos divulgados pela APSI e pelos seus parceiros (empresas, influenciadores digitais, entre outros) através de canais internos (site, Facebook, Instagram…) também são alertas importantes e que agradecemos pois, sem eles, as Campanhas não teriam o mesmo impacto!
Ao longo dos anos a APSI foi também desenvolvendo projetos com informação atualizada, sempre disponível no site da Associação e que pode ser difundida em Hospitais, Centros de Saúde e outros serviços públicos (por exemplo lojas do cidadão, repartições de finanças, etc.) através de circuitos internos de TV, como os 5 filmes “Um segundo pode durar para sempre”, um dos quais é dedicado aos afogamentos e sua prevenção.
Os relatórios em que são compilados e analisados os dados anuais, bem como os comunicados de imprensa divulgados no lançamento das Campanhas, fazem um ponto de situação e trazem para a ordem do dia este tema na altura do verão, em que é mais provável um aumento no número de casos – julho, agosto e junho.
E&O: Como alertar os mais novos para o risco de afogamento, sem alarmismos?
APSI: Os pais e todos os adultos devem ir alertando as crianças e os jovens à medida que vão crescendo, nas situações do dia a dia, de forma adaptada à sua idade e fase de desenvolvimento, para as regras de segurança na água ensinado a identificar os perigos, explicando os riscos e consequências (não mergulhar em locais cuja profundidade se desconhece; nadar apenas quando estiver um adulto presente, paralelamente à margem e em locais vigiados; se alguém estiver em dificuldades, ligar o 112; etc.).
Todos os adultos devem dar o exemplo de comportamentos corretos e explicar os porquês, para que os mais novos compreendam e criem hábitos seguros que também transmitem aos seus pares. Todos devem compreender o risco e a gravidade dos afogamentos, mas também dos acidentes de mergulho que demasiadas vezes causam lesões irreversíveis como paraplegia ou tetraplegia.
E&O: Chamar a atenção dos mais novos para os afogamentos é uma tarefa não só de pais, mas também de escolas. Que responsabilidades competem a um e ao outro?
APSI: Além dos pais, as escolas, por exemplo nas aulas de cidadania, mas também os clubes desportivos, agrupamentos de escuteiros ou outros têm um papel a desempenhar, promovendo o debate de temas tão importantes como este, desde cedo.
As aulas de adaptação ao meio aquático, para bebés e crianças pequenas, e mais tarde o ensino da natação, os cursos de primeiros socorros e o ensino de técnicas de salvamento aquático são importantíssimos. Visto que a morte por afogamento é muito rápida exige uma intervenção imediata, pelo que a APSI recomenda os Cursos de Suporte Básico de Vida, que contribuem para a aquisição de competências de atuação, nomeadamente ao nível do 3.º ciclo do ensino básico.
E&O: O afogamento continua a ser um perigo recorrente para a saúde pública. O que falta implementar a nível governamental para reduzir o risco desta problemática?
APSI: A segurança na água tem de ser colocada na agenda política e ser uma prioridade do Governo em Portugal. No Relatório “Afogamentos de Crianças e Jovens – 2002/2021” a APSI deixa diversas recomendações como a elaboração de um Plano Nacional para a Segurança na Água e a criação de um Registo Nacional Integrado de Afogamento e Lesões Aquáticas, entre muitas outras.
Queremos, contudo, realçar a reivindicação para que seja publicada uma legislação para piscinas, que, como referido anteriormente, deverá abranger todo o tipo de piscinas e incluir requisitos de segurança relacionados com a construção (do tanque, dos acessos, …), a qualidade da água, os meios de socorro e salvamento e definir requisitos para a sua operação e manutenção. Os requisitos de segurança mencionados abrangem não apenas a redução dos afogamentos, mas também de outros riscos associados à utilização de piscinas (quedas, cortes, pancadas, prisão de partes do corpo, intoxicações, eletrocussão…).
Para as piscinas privadas de uso uni e multifamiliar (condomínios), aldeamentos turísticos, turismo rural e alojamento local a APSI defende que deve ser obrigatória a colocação de uma barreira física vertical (como por exemplo, uma vedação) que atrase o acesso/contacto da criança com a água.
E&O: Ao refletir sobre o afogamento, não se pensa, de imediato, nos banhos. Quais os riscos associados a esta situação?
APSI: Os banhos representam um risco diferente consoante a idade. As crianças até aos 10 anos afogam-se sobretudo em ambientes construídos – piscinas, tanques de rega e poços. Os bebés e as crianças até aos 3 anos podem ainda afogar-se em banheiras, baldes, alguidares ou piscinas insufláveis. Os afogamentos em adolescentes e jovens acontecem nos rios, lagos, lagoas, barragens, no mar, ou seja, em planos/cursos de água naturais, mais profundos, escuros e por vezes agitados. Podem estar associados a comportamentos pouco seguros (entrada repentina na água depois de grandes períodos de exposição solar, mergulhos de cabeça em locais desaconselhados, consumo de álcool, entre outros), pelo que é fundamental renovar todos os anos o desenvolvimento de iniciativas nacionais e locais de sensibilização da população e formação de profissionais na área da prevenção de afogamentos e segurança na água (campanhas, seminários, ações de formação).
E&O: O verão é uma altura de riscos acrescidos. Quais os diferentes cuidados que se deve ter na praia e na piscina?
Muitos afogamentos acontecem em zonas não vigiadas, por isso é fundamental sensibilizar a população para a escolha de praias marítimas ou fluviais vigiadas, com nadador-salvador, ensinar todos a reconhecer e respeitar a sinalética existente (cor e significado das bandeiras e outros sinais), as orientações dadas pelos concessionários e profissionais presentes. Relembrar ainda a importância da utilização de coletes salva-vidas homologados para a atividade em questão e adequados ao peso do utilizador e à atividade a desenvolver, por exemplo em desportos náuticos (remo, vela, pesca, etc.) ou em passeios de barco.
As famílias, sobretudo as que têm crianças pequenas, devem garantir que a casa ou o local de férias possui uma vedação bem construída à volta de piscinas e tanques, que impeça ou atrase o acesso da criança à água. Os afogamentos acontecem quando não está ninguém a usar a piscina, por exemplo ao final do dia quando os adultos estão a preparar o jantar, ou à hora da sesta em que todos descansam. Uma porta deixada aberta permite que o bebé ou a criança de tenra idade, sem que ninguém se aperceba, saiam para o exterior… Elas não se atiram à água, mas ao debruçarem-se para lhe tocar, a cabeça grande e pesada cria desequilíbrio e a criança cai, sem fazer barulho. Afoga-se silenciosamente e de forma muito rápida. Mesmo que grite debaixo de água cá fora nada se ouve… em 2 minutos perde a consciência, em 4 a 6 minutos ocorrem lesões cerebrais e em 20 minutos a morte é inevitável.
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