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Como posso falar com o meu filho sobre a guerra?
Como posso falar com o meu filho sobre a guerra?
Opinião | Inês Loio, Psicóloga
Durante décadas, a guerra em solo europeu foi uma miragem. Hoje, é uma realidade. Vamos falar sobre a guerra, mas vamos falar bem!
Como posso iniciar a conversa?
O tema já terá surgido na mesa de jantar, ou na hora de dormir, mas se pretende introduzi-lo de forma natural, o melhor será mesmo tentar entender quanta informação é que a criança já
tem sobre o tema. Podemos, desta forma, ajudá-la a desconstruir alguns conceitos, corrigir algumas crenças que estejam erradas ou completar informação.
Devemos começar por promover a discussão do tema, abrindo espaço para dúvidas e explorando que canais de comunicação é que podemos investigar em conjunto.
Como em todos os temas recentes e difíceis, a comunicação não será nunca uma via de um sentido, e podemos utilizar esta exploração para aprendizagens próprias, feitas em família.
Se para si o tema é difícil de introduzir, poderá ter como base alguma notícia que ouçam em conjunto ou utilizar um livro para falar sobre a guerra. Apesar de existirem diversos livros sobre este tema, a minha sugestão, pela abordagem compreensiva e adequada às crianças é: “A Viagem” de Francesca Sanna (recomendado pelo programa LER+ Plano Nacional de Leitura).
Que linguagem posso usar para explorar este tema em casa?
A linguagem deve ser clara e simples, tendo sempre o cuidado de adaptar o discurso à idade da criança mas promovendo a sua curiosidade. Apesar da vontade em evitar este tema, é importante que seja abordado! As crianças precisam de estimulação e discussão de ideias, assim como da compreensão do mundo que as rodeia.
Apesar do medo que a criança possa sentir, devemos ter um trabalho difícil de equilibrar: se por um lado a guerra é longe e temos de assegurar segurança e proteção, por outro devemos também estimular a compaixão e cooperação com os outros. Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses, “as crianças e os jovens podem sentir-se mais seguras e confiantes quando sentem que podem fazer algo para ajudar” - desta forma, deve envolver a criança na participação em movimentos solidários para que ela compreenda que há uma mobilização social.
Devemos mentir?
Nunca! Apesar de podermos achar que a ansiedade da criança aumenta quando exploramos um tema como o da guerra, não poderíamos estar mais errados. O essencial é deixarmos os nossos filhos à vontade e seguros para explorarem temas mais difíceis sem correrem o risco de se sentirem expostos ou julgados.
Assumindo que mentir nunca será a solução, devemos assumir também que não temos a resposta para tudo e que as crianças fazem perguntas difíceis! Questões mais desafiantes para a
qual poderemos não ter resposta, devemos assumi-lo e dizer com toda a naturalidade “ainda não sei a resposta para essa pergunta”, podendo procurá-la em conjunto.
É normal o medo que sente?
Claro que sim! Devemos validar sempre este tipo de emoções, o máximo que conseguirmos! Dizer coisas como “não te preocupes” ou “não tenhas medo” não será uma reposta muito validante, ao invés de frases como “compreendo que fiques triste a ver estas notícias, é de facto uma situação muito triste e eu também me sinto assim!”. É importante normalizar este tipo de emoções que nós, adultos, também sentimos quando confrontados com este tema. É natural sentir medo, é natural ficarmos tristes com imagens tão distantes mas tão próximas ao mesmo tempo.
Contudo, chamo a atenção para o facto de que podemos não ver medo nos olhos das nossas crianças mas sim indiferença e, nesses casos, devemos aceitá-la sem julgamentos e não tentar forçar um tema pelo qual não têm interesse. Nestas situações, não iremos então puxar o assunto, mas devemos deixar um espaço livre para este debate, caso ele surja.
Devemos desligar as televisões?
Sim e não! Se por um lado devemos explicar à criança o que se está a passar e podemos fazê-lo com recurso a mapas, desenhos, jogos, noticias, etc., por outro, devemos controlar a informação que é lhe é passada. É importante também mostrar que existem outras notícias naquele dia. Apesar de ser difícil fazer esta tarefa com recurso às televisões, porque estas
tendem a repetir-se com temas como este, comprar o jornal pode ser uma boa ideia, já que tem espaço e dá relevância a outros temas.
Este é um tema comum a todos os contextos de vida da criança, pelo que impera que todos os agentes educativos, familiares e cuidadores estejam atentos a sinais que comprometam o bem-estar da criança. Houve alterações na rotina? No sono? No apetite? É essencial estarmos atentos às preocupações das crianças e aceitá-las como válidas, já que, agora mais do que nunca, empatizamos com este medo.
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