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Ansiedade e as crianças: e, se o perigo for real?
Ansiedade e as crianças: e, se o perigo for real?
Opinião | Rita Nogueira, Psicóloga Clínica - consulta de Ansiedade do PIN
Respiração e coração acelerado, tensão muscular, sudorese, tensão ou dor numa parte do corpo... O que é isto? É ansiedade.
Todos nós somos confrontados com pensamentos que nos assustam e preocupam por anteciparem desfechos desfavoráveis sejam eles por exemplo, sociais, profissionais ou financeiros. Estes pensamentos costumam acompanhar-se por alterações no corpo (referidas acima).
Apesar de ser pouco desejada, a ansiedade tem uma função importante, permite-nos pensar sobre situações ameaçadoras/perigosas que não estão a acontecer no momento
- No “aqui e agora” – e, de forma automática, sem termos escolha, o nosso corpo fica ativado para nos poder proteger.
Esta capacidade foi vital para a nossa sobrevivência. Se recuarmos no tempo, há milhões de anos atrás estávamos desprotegidos dos perigos que poderiam pôr em causa a nossa sobrevivência (p.e., ambientais, animais) e esta capacidade permitia-nos estar mais atentos, antecipar e preparar para possíveis ameaças.
Atualmente a realidade é diferente, pelo menos no que diz respeito à frequência e dimensão desses perigos que existiam outrora. Não vivemos com animais perigosos à solta… temos habitações que nos protegem de tempestades…
No entanto, a verdade é que, todos nós somos quase diariamente confrontados com pensamentos que nos fazem sentir alerta ou ameaçados para uma realidade futura. De alguma forma, é como se o cérebro não acompanhasse totalmente a realidade da sociedade atual e (com boa intenção) mantém-nos alerta para tudo o que possa constituir uma ameaça (emocional ou social) e não somente “de sobrevivência”.
Para as várias áreas da nossa vida a mente confronta-nos com os diferentes cenários que podem “correr menos bem”. A intenção é estar alerta e bem preparados para essas eventualidades, mas nem sempre isso nos traz alívio, segurança e conforto. Estes pensamentos, por também não virem sozinhos e induzirem sensações no corpo desconfortáveis, podem causar-nos sofrimento.
É desta forma que a ansiedade se faz sentir presente. E, nestes momentos podemos começar a questionar-nos “e se isso acontecer?”; “é real? pode acontecer?”; “vai acontecer?”; “o que faço se isso acontecer?”; “eu não quero que isso aconteça. O que faço?!”.
Enquanto, em determinados momentos ou para certas situações, a resposta pode ser “é pouco provável" ou “de maneira alguma”, para outros momentos da nossa vida a resposta pode ser dura… vai acontecer (mesmo que não queira que aconteça). Noutros, provável ou improvável, real ou não, não saberemos até acontecer. E a incerteza, essa, não nos deixa descansados.
Cada pensamento, pode lançar uma teia de emoções e de novos pensamentos. Apesar de ser inevitável, há quem possa sentir mais frequentemente ou com maior intensidade, deixando a sensação de “estarmos muito preocupados”. É um caminho desafiante, este, de sabermos que há coisas que poderão ou vão acontecer.
Mas atenção, a ansiedade engana, faz-nos sentir que o problema é essa ameaça futura, mas na verdade o problema não está no futuro. Está aqui, no presente. Na forma como nos sentimos fragilizados nesta “experiência” de ansiedade.
Na forma como os pensamentos e sensações se tornam presentes no momento e podem deixar um rasto de incerteza, impotência, vazio, e ao mesmo tempo da necessidade de tentarmos de tudo para que o futuro temido não aconteça.
Lembre-se, a realidade é o presente. O “perigo no futuro” pode ou não ser real. No entanto, aquilo que efetivamente nos causa sofrimento no agora, são estes pensamentos vividos, que se impõem na nossa cabeça e se fazem sentir no nosso corpo como se fossem factos e verdades absolutas. Lutamos e evitamos porque não queremos pensar e sentir, tentamos controlar e agilizar tudo o que for possível para deixar a ansiedade mais quieta. Mas nem sempre resulta, e continuamos a sofrer porque falamos a mesma língua que os nossos pensamentos.
O nosso corpo ouve e prepara-se para lidar com esses acontecimentos como se na verdade, estivessem a acontecer no momento. Sentimo-nos frustrados e exaustos.
A essência de viver é saber viver com o desconforto, aceitá-lo como parte da condição humana, e abrir mão do controlo e da necessidade que temos de “consertar” ou fugir de tudo o que nos causa desconforto.
Por mais verdadeiros ou ameaçadores que sejam, os pensamentos podem efetivamente não nos largar. Aprender a estar com esta agitação da mente é possível, não está sozinho neste caminho. É preciso tolerar, aceitar e ter coragem para dar um passo diferente e se for necessário, saber pedir ajuda.
Psicóloga Clínica
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