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Retorno às aulas
Retorno às aulas
Opinião | Dr. Nuno Lobo Antunes, Neuropediatra & Diretor Clínico do PIN
Todos os anos, como no mito de Sísifo, retomo o tema da abertura das aulas nesta colaboração com as Estrelas & Ouriços.
A verdade, porém, é que a pedra que rola pela encosta nunca é a mesma. Isto porque a escola e a sociedade devem estar em permanente conversa, como se a imagem do espelho devesse transformar o objeto que nele está refletido, num valsa interminável, um constante “pas de deux”. Ora a verdade é que a Sociedade mudou.
Este ano, assistiu-se a dois acontecimentos que modificarão o curso do mundo: a guerra na Europa e o aparecimento da Inteligência Artificial. Julgo que seria bizarro, que nas nossas escolas esses temas não fossem integrados no currículo académico.
Será possível ensinar História, Geografia, Economia, sem referência ao significado da invasão da Ucrânia? Do que representa a construção de blocos geopolíticos? Da definição das fronteiras e identidade dos povos? Do poder de uma moeda de referência mundial e que implicações isso tem?
Tive oportunidade de ler o manual de Economia de uma das minhas filhas que terminou o secundário. A maior parte dos gráficos tinha um atraso de pelo menos uma década! Os textos são pastosos, sensaborões. Não se vê um rasgo de ironia ou imaginação. Disfarça-se a maçada com fundos coloridos, mas os textos parecem fotografias de Pompeia, restos funerários, produtos fora de prazo, sem a vivacidade dos tempos que vivemos.
Se o aparecimento da Inteligência Artificial nos apanhou desprevenidos, não podemos assobiar para o lado ignorando o elefante na sala. De que forma usá-la como ferramenta pedagógica? Que implicações terá no futuro? Que perspetivas traz para a definição do que é o humano? Quais os limites éticos da sua utilização?
Poderemos continuar a rotina do nosso ensino sem enfrentar estas considerações? Qual a competência técnica e a reflexão que os nossos professores estão preparados para fazer sobre estes temas? Como os explicar aos diferentes grupos etários respeitando as competências de cada idade?
Fala-se no tempo dos media, no tempo da justiça, como se os diversos aspetos da nossa vida em sociedade caminhassem a velocidades diferentes. Não se fala no tempo da Educação, embora esse devesse acompanhar a velocidade com que a sociedade se transforma.
Não me parece que seja assim. A “matéria” do currículo obrigatório parece suspensa, refletindo mais o passado do que antecipando o que aí vem, e não é verdade que preparar o futuro é um dos propósitos do ensino?
Pensando melhor, afinal a pedra é sempre a mesma, a que todos os anos empurramos até ao cimo da montanha. É pena, não devia ser assim.
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