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Nos bastidores do teatro: entrevistas que o levam a espreitar por detrás das cortinas
Nos bastidores do teatro: entrevistas que o levam a espreitar por detrás das cortinas
Entrevistas Estrelas & Ouriços
Como se planeia o que acontece no palco? Como se pensa a programação de um teatro infantil? Venha desvendar os bastidores do teatro, com a Estrelas & Ouriços.
Ir ao teatro é das melhores coisas do mundo! Mas, sabia que os espetáculos e as iniciativas são cuidadosamente pensados para transmitir mensagens que despertam a reflexão no regresso a casa?
Vamos conhecer quem ajuda a fazer tudo isto acontecer, desde o primeiro segundo.
Conheça os pormenores de "Um Poeta em Forma de Assim: visita guiada à cabeça de Alexandre O’Neill", junto do autor do texto da peça, Luís Leal Miranda - que é também um dos responsáveis pela exposição que poderá ser visitada durante o ciclo e o autor de uma playlist inspirada em O’Neill que estará disponível no Spotify do LU.CA.
A efeméride é uma boa justificação, mas a vontade de recordar ou celebrar o O’Neill vai além das datas redondas. A sua obra, poética e não só, é tão vasta que não se esgota neste ciclo. O que quisemos fazer aqui foi aguçar a curiosidade à volta do poeta para que outras pessoas, sobretudo os mais novos, possam ser influenciados por ele. Possam ir à procura da poesia dele e, depois, ir à descoberta de outros poetas. No fundo, fizemos uma peça de teatro que é uma catapulta para lançar os miúdos em várias aventuras literárias.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o à vontade dele com as palavras para fazer coisas belas e comoventes, mas também para brincar e criar uma poesia sem limites – sem limites de temas, sem limites de contagem de sílabas ou números de versos, sem limites para as rimas e até sem limites gráficos ou tipográficos. O’Neill foi original e destemido, é muito difícil de rotular e impossível de imitar.
A peça surgiu após um convite da Susana Menezes, diretora artística do Lu.Ca – Teatro Luís de Camões. Foi-me dada toda a liberdade para apresentar o poeta Alexandre O’Neill às crianças e aos jovens sob a forma de um monólogo. Eu conhecia bem a poesia dele, mas o trabalho de escrita exigiu muita investigação e a procura da solução para um enunciado difícil: como explicar quem foi este tipo, o que é esta poesia, de uma forma cativante a um público que está agora a dar os primeiros passos na literatura? A solução encontrada, a tal visita guiada à cabeça de um hipotético museu do pensamento poético, foi a forma que encontrei para construir uma abordagem pedagógica e divertida, dentro do espírito da poesia e da personalidade do O’Neill.
Os espectadores vão conhecer a Ana, a guia da Cabeça-Museu Alexandre O’Neill. É uma guia entusiasta, fascinada por poesia mas um bocadinho trapalhona. É através dos objetos espalhados pelo museu, e da interação da Ana com eles, que vamos conhecendo a vida e a obra do poeta. Há frigoríficos, aspersores de ironia, vasos com sinais de pontuação, um karaoke de poesia (“não serve para cantarolar, serve para cantaroler”) e outras máquinas muito estranhas que nem sempre funcionam muito bem.
Quisemos reproduzir ao máximo a experiência de ir realmente a um museu. Por isso, tal como nos museus, há uma gift shop. Com a particularidade desta loja não ter nada à venda – é a Loja a Fingir do Museu Imaginário. Os espectadores são convidados a levar uma memória para casa, mas uma memória no sentido estritamente literal.
É uma compilação com canções que inspiraram a escrita da peça e que se relacionam, de forma direta ou indireta, com a vida de O’Neill. A playlist inclui ainda um poema lido pelo próprio e uma canção que ele escreveu – A Gaivota, interpretada por Amália Rodrigues.
Susana Menezes dirige o LU.CA, um teatro infantil de referência em Lisboa e a nível nacional. Nesta entrevista explica-nos como desenhou o ciclo dedicado ao tema Ética e Justiça. A programação especial inclui dois espetáculos de teatro, oficinas em escolas, uma exposição, leituras, cinema e uma formação para professores.
Começamos com um ciclo de programação dedicado a um assunto que consideramos urgente - a Ética e a Justiça. Propomos uma reflexão sobre as ações em convivência, consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual, baseados nos padrões morais em sociedade, procurando responder ao “Como devemos viver?” ou “Como devemos agir?”.
Os públicos-alvo do LU.CA situam-se entre os 3 e os 15 anos, e neste início de ano tentamos programar pelo menos um projeto para cada uma destas faixas etárias.
Este ciclo, que decorre ao longo de todo o mês de janeiro, procura proporcionar um momento de encontro com o tema. A Ética é um dos princípios mais importantes no desenvolvimento social das crianças porque se refere à consciência do que é certo e errado nas relações com as outras pessoas.
Na verdade, Ética e Justiça caminham juntas. A Justiça, ou seja as questões que dizem respeito às leis, pode promover os princípios morais e éticos. Ao mesmo tempo a virtude da ética, no interior de cada um de nós, pode guiar o aperfeiçoamento das leis.
Não procuramos dar respostas, mas antes dar pistas para ajudar as crianças e os jovens a pensar e levantar questões sobre a Ética e a Justiça. Aqui entendidas como conjunto de regras e preceitos que norteiam as ações de um individuo no mundo e que contribuem para a formação de uma sociedade mais íntegra e tolerante.
O nosso objetivo não é ensinar, ainda que saibamos que as crianças também aprendem quando vêm ao teatro. Em relação a esta temporada vamos cruzar o teatro com as artes plásticas, a literatura e o cinema, tudo ligado pela área da filosofia que é uma área do pensamento.
Procuramos sempre explorar diferentes formatos artísticos, pelo próprio exercício criativo que está implícito e porque a diversidade na abordagem de um tema potencia uma receção mais completa.
Sim, o LU.CA tem desenvolvido várias ações, quer no contexto do programa quer no contexto do espaço físico, para promover a acessibilidade. Nomeadamente, sessões com Audiodescrição, Língua Gestual Portuguesa e Sessões Descontraídas. Temos uma parte da Biblioteca com uma secção inclusiva e a divulgação da programação em braile. Os espaços comuns do teatro têm piso podotáctil e tanto a plateia como o palco são acessíveis a pessoas com mobilidade condicionada.
Temos sempre propostas de automedicação, no entrepiso, que propõem uma aproximação às obras, como é o caso dos Pontos de Escuta e da Biblioteca do Público.
Considero que o nosso programa faz em permanência mediação de assuntos complexos utilizando diferentes formatos artísticos, que muitas vezes são ainda acompanhados de conversas antes e ou depois dos espetáculos, abrindo espaço para a discussão e troca de ideias entre públicos, artistas e mediadores.
A exposição sobre os Grandes Dilemas éticos em forma de pergunta, com pesquisa e curadoria da Joana Rita Sousa e conceção gráfica da Ágata Ventura. Propõe ao público uma reflexão individual sobre algumas situações com as quais nos confrontamos no dia a dia da escola, em casa ou mesmo na cidade. Desafiamos as crianças e os jovens a responder em post-its, criando uma mancha de possíveis respostas que são desafios ao nosso entendimento sobre o que é certo e errado.
Com vários Bailes como manda a tradição. No entanto, este ano cada um dos dias terá duas sessões: uma após o almoço, para os que gostam de começar cedo, e outra logo depois, para os que preferem dormir uma sesta. Outra novidade é a venda antecipada dos bilhetes, que estarão disponíveis a partir de dia 5 de fevereiro, tanto na bilheteira do LU.CA como na bilheteira online.
O balanço é muito positivo. Temos conseguido criar uma boa relação com os públicos de Lisboa e também de fora da cidade e uma boa dinâmica de propostas artísticas em regime de encomenda e coprodução. Aumentamos as carreiras dos espetáculos e conseguimos construir um lugar único em Portugal no contexto da criação e apresentação de propostas artísticas para crianças e jovens.
© Fotografia principal: Pedro Figueiredo
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