Título
TEORIA DA MENTE E LINGUAGEM
TEORIA DA MENTE E LINGUAGEM
Aprendizagem | Fonte: PIN - Centro de desenvolvimento
A etiologia do funcionamento e do comportamento social das pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo tem vindo a ser amplamente investigada. Uma das linhas de pensamento que estão a ser exploradas está intimamente relacionada com as competências de Teoria da Mente (TM).
É fundamental para a interação social (para explicar as ações dos outros), para a comunicação (para percebermos se o outro está a compreender a mensagem e mesmo para compreender mensagens que nos transmitem) e para a compreensão da narrativa (para compreender os motivos, intenções, desejos e crenças dos intervenientes).
Na história da Capuchinho Vermelho, o Lobo sugere à menina ir por outro caminho “mais rápido” para chegar a casa da avó mais depressa. A criança deve estar atenta aos sinais não – verbais da comunicação (sorriso malicioso, piscar de olho) para compreender a atitude antagónica do Lobo (que quer ganhar a corrida até casa da avó mas sugere um caminho mais rápido à Capuchinho?). Crianças com boas competências de TM irão ser capazes de antecipar que esta sugestão do Lobo não é honesta e que deve ter um objetivo diferente do que ele verbaliza e que deve estar a preparar algo para enganar a Capuchinho.
A falha no desenvolvimento destas competências resulta igualmente em dificuldades na modificação e adaptação do próprio discurso e comportamento de acordo com as regras sociais (e da flexibilidade para lidar com as mesmas) bem como no reconhecimento do impacto do nosso discurso no comportamento do outro.
O nosso dia – a - dia seria difícil de imaginar se não existisse TM. Esta competência está intimamente relacionada com a capacidade de comunicar intencionalmente, fazer reparos da comunicação (ajustar a nossa comunicação quando não estamos a ser compreendidos pelo outro), persuadir, enganar o outro (intencionalmente), fazer planos, partilhar um tópico de conversação e/ou foco de atenção.
As competências de linguagem têm por isso um papel essencial no desenvolvimento e uso da TM. Por um lado, é importante compreender a comunicação não – verbal (tom de voz, expressão facial dos outros, linguagem corporal), compreender o significado das palavras e também compreender e usar frases bem organizadas e extensas.
Assim sendo, as crianças devem, desde cedo, ser expostas a experiências com comunicação não – verbal e vocabulário emocional (surpreendido, assustado, feliz, triste, preocupado, aborrecido, arrependido…) sendo a mãe um excelente modelo. A verbalização dos seus pensamentos, desejos e sentimentos é uma forma de aprendizagem deste vocabulário com maior grau de abstração e que é fundamental para a compreensão de alguns tipos de pensamento.
A linguagem, por exemplo, é fundamental para o sucesso na compreensão de tarefas de falsa crença: capacidade da criança inferir que a outra pessoa tem uma crença/acredita em algo diferente da realidade. Assim, a criança passa a modificar a sua crença tornando-se capaz de julgar simultaneamente dois modelos alternativos e contraditórios da realidade.
Uma situação em que a criança é confrontada com uma falsa crença é quando assiste à história da Branca de Neve. Nesse caso, a criança sabe que a maçã que a bruxa oferece à Branca de Neve está envenenada mas também sabe que a simpática menina não tem esse conhecimento e, por isso, aceita e come a maçã. Desta forma, a criança é capaz de se colocar no lugar da Branca de Neve e compreender que ela não tinha essa informação e daí “deixar-se enganar”. Caso contrário, a criança não iria perceber o porquê da atitude ingénua da Branca de Neve.
É, por isso, fundamental que principalmente os pais das crianças com PEA recorram a palavras como “pensa”, “lembra” e “acha”, conversando sobre sentimentos e pensamentos no lugar de recorrer constantemente a vocabulário concreto durante as conversações. O uso de frases iniciadas por “Eu penso…”, “Eu sei…”, promovem o desenvolvimento da TM.
O diálogo é uma tarefa de interesse uma vez que está centrado em elementos que evidenciam a ideia que nas relações sociais são utilizadas ferramentas sociais que demonstram a sedimentação das capacidades reconhecidas como fazendo parte da TM. Defende-se assim a ideia que situações sociais estabelecem um conjunto de práticas em que a criança recorre a capacidades que a colocam num papel que requer considerar o que o outro pode pensar, imaginar, sentir ou entender diferente do dela.
Existem vários fatores que influenciam o desenvolvimento da TM, nomeadamente, a linguagem, a presença de irmãos mais velhos (mas não mais novos, devido ao uso de linguagem mais complexa que fazem), o número de irmãos (devido ao facto de ter mais desafios e oportunidades de confronto e, consequentemente, resolução de problemas) e também as funções executivas (memória de trabalho e controlo inibitório). A estimulação, em casa, é crucial através da resolução de mal – entendidos, discussão acerca de crenças diferentes, resolução de confusões (situações que ajudam a criança a “ver” a sua mente), narrativa de histórias e/ou filmes que são uma fonte de conceitos relacionados com cognição social.
Já pensou em quantas situações do nosso quotidiano usamos as nossas competências de TM?
Autor:
Ana Carolina Vieira, Terapeuta da Fala
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