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Regras e Limites manter ou negociar?
Regras e Limites manter ou negociar?
Opinião | Marta Lopo Duarte, Psicóloga Clínica
Cansado de repetir a mesma frase vezes sem conta? De repetir mais de 10 vezes o mesmo pedido? As rotinas de fim de dia são um tormento? Sente que os seus filhos não colaboram quando lhe faz um pedido? Não se sinta sozinho.
Sabemos como é desafiante a gestão de comportamentos de crianças menos colaborantes, menos cooperantes, mais opositoras, mais desafiantes e que por vezes se podem tornar mais reativas aos pedidos dos pais.
O papel dos pais é fundamental, no suporte que podem ser para os filhos, na aplicação clara e consistente de regras e limites. Os pais devem clarificar com os filhos, de uma forma empática, quais são os limites a partir dos quais o seu comportamento se torna desajustado.
Ao estabelecer as regras e os limites de forma empática e carinhosa, os pais colocam-se numa postura mais colaborativa e menos autoritária para com os filhos, podendo manter, mesmo em momentos de maior conflito, uma atitude mais neutra na abordagem aos seus comportamentos.
Manter uma abordagem empática, facilita a abordagem ao comportamento desajustado e a resolução de problemas que surgem desse mesmo comportamento e das circunstâncias que ele cria, não colocando em causa a relação.
Permite à criança perceber o que é possível e o que não é possível, o que pode ser negociado e o que não pode ser negociado, e também, o impacto que o seu comportamento pode ter no outro e as possíveis consequências do mesmo.
Os comportamentos desajustados não revelam, na maioria das situações, uma intenção, uma falha de carater ou uma falha na estruturação da personalidade da criança, mas sim uma expressão de lacunas em termos de competências e habilidades que a criança pode praticar através da experiência que pode ter com a aplicação de limites e regras.
Existem, muitas vezes, competências de base que estão em falta, como por exemplo, a flexibilidade, a melhor interpretação e descodificação da situação e do outro, a gestão de alternativas e a capacidade de antecipar consequências.
Estas lacunas podem apresentar-se como fragilidades no autocontrolo e gestão das emoções, pelo que é importante criar um contexto de previsibilidade de regras e limites consistente que permita à criança fazer o desenvolvimento destas competências e consolidar essa aprendizagem.
Este contexto permite à criança diferenciar melhor o comportamento ajustado e o menos ajustado, ter uma boa capacidade de previsibilidade, posteriormente de antecipação do que é esperado, de possíveis consequências e de como pode estar em cada situação.
Nas rotinas diárias as regras e os limites devem ser claros e bem definidos, por não ser possível fazer uma negociação diária do que é igual e constante, todos os dias, como o ir para o banho, ir para a mesa, ir deitar, levantar e vestir.
São estas as situações que não deve existir negociação para que a criança se possa tornar mais autónoma e mais eficaz na sua capacidade de colaboração.
Situações que sejam mais pontuais, como por exemplo, definir um programa de fim de semana que vão fazer, um filme que vão ver à noite ou um jogo que vão fazer juntos em família, são programas que podem ser negociados e até mesmo decididos pela criança ou em conjunto. Tanto no contexto das situações não negociáveis, bem como das situações negociáveis, é possível, através da abordagem empática criar uma ligação emocional com as crianças, promovendo dessa forma a aprendizagem de competências fundamentais para o seu desenvolvimento.
Estabelecer regras e limites não significa, apenas, que estamos a ajudar a criança, com informação clara, a ajustar o seu comportamento, mas também estamos a ajudá-la a aprender a adaptar-se às exigências externas, a tornar-se mais flexível, a gerir alternativas, a resolver problemas, a antecipar consequências, a fazer melhores escolhas, a gerir emoções e a ser mais autónoma.
Reforçar a ligação emocional com os seus filhos e simultaneamente ser assertiva na manutenção de limites claros, que muitas vezes podem gerar situações de conflito é, ainda assim, possível. Seja empático, com eles nos momentos mais desafiantes, com a dificuldade que representa por vezes colaborar, para que os seus filhos possam fazer uma aprendizagem fundamental das competências que podem estar em falta e tornarem-se mais resilientes.
Psicóloga Clínica
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