Título
Os desafios das famílias do séc. XXI
Os desafios das famílias do séc. XXI
Opinião | Sónia Gaudêncio, Psicóloga Clínica
A família tem sofrido várias transformações ao longo dos anos.
O conceito de família com pai, mãe e filhos, em que o pai saía para trabalhar e ganhar o sustento da família, enquanto a mãe cuidava e educava os filhos, tratando de todas as tarefas domésticas, já há muitos anos deu lugar a “novas famílias”. Desde a família em que há realmente o pai, a mãe e os filhos, mas tanto o pai como a mãe têm vidas profissionais ativas e, portanto, dividem e ajudam-se nas demais tarefas (domésticas e relativas à educação dos filhos); às famílias monoparentais; às famílias “reconstruídas”; às famílias com dois pais e/ou duas mães… temos realmente uma multiplicidade de conceitos de família, onde me parece que permanece o essencial… os laços afetivos que ligam e aproximam os seus membros.
Pelo menos, assim deve ser. Família como “porto seguro”, como transmissora de afetos e valores; como guia orientador; como promotora da autonomia, como ponto de referência e de identidade, dando grandes contributos para a construção da personalidade de cada um de nós.
E são estes os grandes desafios das famílias do séc. XXI: acompanhar todas as mudanças da sociedade continuando a proteção; a educação para os afetos e para os valores; a promoção da autonomia dos seus filhos. Mas numa sociedade cada vez mais exigente, onde profissionalmente a competição nos obriga a encontrarmos, diariamente, a nossa melhor versão, para podermos acompanhar e estar à altura dos desafios, o difícil é encontrar forma de equilibrar a vida profissional com a vida familiar, sem deixar a família para segundo plano.
E este começa por ser o grande desafio dos pais de hoje em dia: ter tempo para a família; ter tempo para estar efetivamente com os filhos, um tempo produtivo, de qualidade que não lhes traga aquela sensação de culpa por estarem demasiado ausentes. É que esta sensação de culpa vai “invadir” a forma como educam os filhos, tornando-os por vezes, mais permissivos ou tentado compensar as crianças com outras coisas, nomeadamente materiais, que acreditem…. não substituem a vossa presença, o vosso afeto, a vossa atenção.
Isto leva a crianças, cada vez mais fechadas nos seus mundos, maior parte das vezes virtuais (tablets, telemóveis, etc.), crianças que fazem inúmeras “chamadas de atenção” e nem sempre, de forma positiva, crianças com muito mais problemas de saúde Psicológica. Verdade seja dita que a pandemia, os confinamentos e o teletrabalho não ajudaram em nada esta situação. Mas, não poderão os pais encontrar forma de reverter esta situação?
Qualquer tempo “gasto” a fortalecer os vínculos afetivos com os filhos; a simplesmente estarem uns com os outros, dentro do tempo possível do dia a dia de cada família; a dialogarem sobre tudo e mais alguma coisa (são nestes momentos e nestas conversas que transmitimos os valores em que acreditamos); a criarem uma qualquer rotina prazerosa que vos una ainda mais e que vos permita relaxar e divertir, acreditem que não será tempo perdido, pelo contrário, trará ganhos a médio e longo prazo.
Um outro desafio, por vezes difícil para as famílias, é saber equilibrar a proximidade e cumplicidade com os filhos, bem como o espaço para que possam expressar as suas opiniões, envolvendo-os na vida da família e o estabelecimento de regras e limites que são salutares e organizadoras, tranquilizadoras, extremamente importantes para um bom desenvolvimento infantil e para a preparação como ser humano, de forma a saber-se adaptar à vida em sociedade, que tem ela própria as suas regras.
Os pais que fazem de tudo, para não frustrar os filhos, podem ser muito bem-intencionados, mas não estão a preparar os filhos para serem bem-sucedidos no futuro. Isto porque, quer queiramos, quer não, mais cedo ou mais tarde, a frustração faz parte da vida de todos nós e se não aprendermos, desde pequenos, a lidar com ela, mais difícil será no futuro e isso trará mais sofrimento psicológico, do que aquele que os pais pretendem evitar em crianças.
Assim sendo, preparar os filhos para saber lidar com qualquer sentimento e emoção, positiva ou negativa, é o mais adequado e o que melhor contribuiu para um bem-estar psicológico das crianças e jovens, futuros adultos.
Vale a pena refletir acerca destes e de outros desafios que se apresentam às famílias. Qual o conceito de família que quero transmitir aos meus filhos? Que aspetos posso mudar ou melhorar, ou até, quais quero manter, para ajudar na preparação de um ser humano (os seus filhos) nesta importante missão de saber enfrentar os desafios da vida?
Faça o que fizer, nunca se esqueça dos afetos que devem, sempre, estar presentes em qualquer família! Ser família é isso mesmo… é mais “SER” do que “TER”.
Sónia Gaudêncio, Psicóloga Clínica e Diretora da ESTIMA +
Para usufruir deste desconto apresente esta página.
Fique a par, todas as semanas, dos melhores programas e atividades para fazer com os mais novos