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O QUE SE ESCONDE POR DETRÁS DAS LETRAS E DOS NÚMEROS
O QUE SE ESCONDE POR DETRÁS DAS LETRAS E DOS NÚMEROS
Desenvolvimento | Fonte: PIN - Centro de Desenvolvimento
O que se esconde por detrás da aprendizagem de letras e números e quais são os pré-requisitos para a entrada no primeiro ciclo?
Ainda assim, as aprendizagens em idade pré-escolar sugerem um caráter quase exclusivamente lúdico e livre. Em idade escolar, pelo contrário, as aprendizagens desenvolvidas sugerem um caráter mais formal e estruturado. Na transição para o primeiro ciclo é muitas vezes sentida preocupação em torno deste tema, havendo a questão de as crianças estarem de facto preparadas, independentemente da sua idade cronológica. Existe muitas vezes a dúvida se devem ficar mais um ano no contexto pré-escolar, pelos mais diversos motivos, ou se será necessário investir em determinadas áreas identificadas como difíceis para as crianças.
De facto, existem determinadas competências pré-académicas que podem funcionar como preditoras do sucesso no primeiro ciclo, isto é, apesar de não se poder prever com certeza o percurso escolar das crianças, sabe-se atualmente que podem ser estimuladas determinadas competências em idade pré-escolar facilitadoras das aquisições no 1º ano de escolaridade.
A leitura e a escrita são duas das mais importantes aprendizagens ao longo da vida. Para um adulto, ler e escrever tornam-se processos automáticos, contudo, para uma criança a aquisição destas competências é muitas vezes complexa e pressupõe determinadas bases para que decorra sem dificuldades.
Sabe-se que a linguagem oral mantém uma relação estreita com a linguagem escrita. Um nível mais elevado de vocabulário e a capacidade para formular frases gramaticalmente corretas influenciam positivamente quer a produção escrita, quer a leitura e a compreensão do que é lido. Até mesmo a capacidade que um indivíduo tem para ajustar a sua linguagem ao meio ou aos interlocutores que o rodeiam, para interpretar pistas verbais e não-verbais, pode igualmente influenciar a compreensão de mensagens escritas de uma forma mais ou menos literal.
Também as questões fonológicas consistem em competências fundamentais na medida em que a escrita é uma representação gráfica dos sons da língua. Assim, uma criança com alterações fonológicas que apresente, por exemplo, substituições ou omissões de sons no seu discurso ou alterações na discriminação auditiva irá provavelmente experienciar dificuldades na compreensão da associação sons-letras.
Aliada a estes fatores, é igualmente essencial a capacidade para refletir sobre a língua, sobretudo sobre as unidades que a compõem. Esta capacidade diz respeito à consciência fonológica e permite ao indivíduo analisar os segmentos que integram a linguagem falada. Tarefas de consciência fonológica consistem, por exemplo, na divisão de palavras em sílabas, identificação de palavras que rimam ou de palavras com igual som inicial, entre outras.
As experiências de literacia prévias à exposição formal são consideradas também relevantes. Uma criança que que tenha mais contacto com livros e demonstre gosto e interesse por atividades de pré-literacia, estará mais preparada para aprender a ler e a escrever. Estas experiências permitem que se vão desenvolvendo noções importantes em idade pré-escolar: que uma palavra escrita pode representar um conceito, que a escrita é orientada da esquerda para a direita e de cima para baixo, que vá aumentando a capacidade para compreender uma narrativa ou para recontar uma história ouvida.
Com a entrada no primeiro ano e as tarefas que aqui se ensinam, exige-se que as crianças tenham já no seu reportório um conjunto de competências que vão desde a capacidade de atenção, o saber estar sentada durante um período de tempo mais alargado, competências percetivas, de memória, competências sociais e emocionais, que vão muito para além do saber as letras e os números.
A capacidade de atenção que permite selecionar estímulos em detrimento de outros e que nos faz agir e relacionar informação em cada contexto. Esta capacidade é também importante na aprendizagem formal, onde a criança necessita de estar atenta (selecionar os estímulos corretos) para poder em conjunto com a memória, reter informação e com isso adquirir conhecimento. Também a memória está estreitamente relacionada com a aprendizagem, são processos complementares. Quando falamos em armazenamento de informação podemos basear-nos em 3 tipos de memória: a sensorial (é pelos órgãos dos sentidos que as informações entram no sistema da memória e duram frações de segundo) a de curto prazo (armazenamento da informação durante alguns segundos, após o desaparecimento do estímulo) e a de longo prazo (permite a retenção de dados e informação adquiridos durante dias, meses, até anos). Sem a capacidade de memorização, os processos de aprendizagem estariam sempre a reiniciar-se, pondo em causa todo o processo de adaptação do ser humano e aquisição de novas aprendizagens.
As capacidades auditivas e visuais devem estar também completamente integradas ou devidamente corrigidas de forma a criança poder conduzir as informações do mundo que a rodeia (estímulos externos) ao cérebro e poder integrar essas informações com as já existentes e dar respostas adequadas aos estímulos vindo do exterior.
Relativamente à noção do corpo, sem esta integração e adequado reconhecimento do esquema corporal não conseguiremos fazer aprendizagem, pois é através da integração correta e relação harmoniosa com este referencial, o nosso corpo, que conseguiremos aprender.
A par da noção do corpo, a coordenação visuo-motora, que diz respeito à sinergia entre a visão e os movimentos do corpo, permite à criança realizar, no exemplo concreto de leitura e escrita, movimentos da mão coordenados com o movimento ocular. Esta competência permite que a criança produza símbolos escritos devidamente organizados e sequenciais.
Para além do fator anteriormente referido, questões relativas à lateralidade (a capacidade de reconhecimento de direita e esquerda) é fundamental no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Este conceito está também intimamente ligado noção e esquema corporal, é através da distinção de ambos os lados em si, no outro e nos objetos que a criança reconhece a esquerda e a direita. Segundo diversos autores, é por volta dos 6 anos que as crianças têm esta competência totalmente adquirida. Dificuldades neste domínio terão implicações na aprendizagem das letras, uma vez que podem levar a confusões na orientação espacial das letras, bem como em relação à direção da leitura e da escrita.
Em conjunto com a lateralidade, a orientação espácio-temporal, que diz respeito à capacidade que a criança tem em situar-se no espaço que a rodeia (posição do seu corpo no espaço e relação com os objetos) e no tempo (situar-se em sucessão de acontecimentos, duração de intervalos) são pré-requisitos fundamentais para o processo de aquisição da literacia. Alterações nestes dois domínios levam a dificuldades na identificação de letras que apenas diferem quanto à orientação espacial, dificuldades em respeitar a ordem de sucessão das letras nas palavras e das palavras nas frases. Pode também levar a dificuldades na organização e respeito dos limites na folha de papel, assim como dificuldades na utilização dos tempos verbais e problemas na correspondência dos sons com as respetivas letras.
Por último e não menos importante, deve respeitar-se o ritmo natural de aprendizagem de cada criança, os padrões de sono e de alimentação, os tempos de brincadeira e o seu estado emocional. Uma criança terá mais dificuldades em aprender se não estiver feliz, segura, equilibrada e rodeada de contextos positivos de interação.
Concluindo, apesar de não existir uma forma exata de determinar sucesso ou insucesso relativamente às aquisições escolares, são conhecidas diversas competências que se podem revelar essenciais para que o processo de aprendizagem no primeiro ano decorra sem alterações. Estas competências devem ser estimuladas em idade pré-escolar e, caso sejam identificadas dificuldades, deve ser realizada intervenção especializada o mais precocemente possível.
Artigo desenvolvido por,
Ana Rita Santos – Terapeuta da Fala
Raquel Mata – Educação Especial e Reabilitação Psicomotora
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