Título
GAGUEZ
GAGUEZ
Saúde | Fonte: PIN - Centro de desesnvolvimento
A gaguez é uma das perturbações da fluência que surge normalmente durante o período de desenvolvimento linguístico da criança, podendo instalar-se mais tarde ou ocorrer no seguimento de lesões neurológicas adquiridas.
As disfluências podem ser entendidas como transitórias se surgirem entre os 2 e os 5 anos de idade e se não se manifestarem
por mais de 6 meses. Normalmente a criança não tem consciências das suas
alterações de fluência e não traz grandes preocupações aos pais por não
se revelar demasiado frequente nem grave. Nesta fase, é possível
fazer-se um trabalho de prevenção, com vista à recuperação, de uma forma
muito aligeirada e em tom de brincadeira para a criança. O objetivo de intervenção especializada é orientar os pais sobre estratégias e modos de atuação perante os diferentes cenários e contextos de comunicação do seu filho. Passados 8 meses a 1 ano, se estas disfluências persistirem, podemos estar perante uma gaguez.
Aqui, podem surgir comportamentos mais graves, como os bloqueios, os
movimentos associados às disfluências devido à tensão (cerrar o punho,
por exemplo) e sentimentos negativos sobre o próprio e sobre situações
de fala.
Nenhum ser humano vive, cresce e aprende sozinho.
Diariamente, as nossas crianças desenvolvem o seu caráter,
personalidade e compreensão da sua identidade não apenas pelos seus
marcadores biológicos e construto de personalidade mas também pela
interação que estabelecem com tudo aquilo que está ao seu redor,
família, pares, escola, natureza. Crianças propensas a serem mais
ansiosas, exigentes com o seu próprio desempenho, temperamentais e
perfecionistas, entre outros fatores prepetuantes, estão em risco de
agravamento de sintomas tanto visíveis ao parceiro comunicativo como de
caráter intrínseco.
Quando a gaguez se instala de forma permanente,
a perceção da ausência de controlo no momento em que quer e tem algo
para comunicar oralmente tendencialmente é uma experiência assustadora
para a criança. Não saber o porquê da dificuldade que sente ao falar,
como e qual o impacto e reação que provocará em quem a ouve, o que fazer
para resolver, são razões suficientes para o aumento progressivo de
tensão devido ao medo, muito em parte originado por fenómenos de
ansiedade antecipatória devido a experiências vividas anteriormente de
valor negativo para a criança. Dependendo da idade da criança,
desenvolvimento cognitivo e emocional, ela poderá percecionar ou não as
dificuldades de fluência de forma diferente. Está estudado que é a experiência que gera novas aprendizagens,
tanto a nível cognitivo, motor como emocional. Isto significa que eu,
enquanto indivíduo, assumo que se eu fizer algo de determinada maneira,
ou estiver perante determinada situação e o resultado for frequente ou
semelhante, então dou como certo, por exemplo, que irão rir-se de mim
sempre que tiver de falar perante a minha turma, ou os meus pais vão
sentir-se irritados porque não consegui explicar claramente o que queria
dizer ou, ainda, sempre que quero ir comprar um saco de gomas à
mercearia, já sei que as palavras não me vão sair da boca.
Provavelmente, como mecanismo de defesa e de forma inconsciente, vou
preferir não falar, não partilhar, não comprar, não ser eu...
Numa perpetiva parental ou do cuidador, a sensação de sermos incapazes
de alterar a dificuldade ou circunstância sentida pelo outro,
especialmente se esse outro é o nosso filho, pode ser avassaladora. O
pais são o elemento central dos fundamentos para o desenvolvimento
saudável da criança. Torna-se, por isso importante que os pais conheçam e
entendam comportamentos e ações que promovam o bem estar do seu filho enquanto comunicador e que sejam bons modelos comunicativos.
Isto significa, por exemplo, falar com uma velocidade considerada
normativa, ouvir com os sentidos da visão e audição, promover um
ambiente onde a criança se sinta segura e confiante para comunicar,
respeitar os turnos de conversação, valorizar em vez de criticar.
Imagine-se, muito rouco, num dia de trabalho. Como se sentiria se alguém insistisse consigo para que falasse mais alto,
porque não o conseguia entender; ou estava constantemente a mandá-lo
beber água; ou, pior, se se sentisse inquieto e desconfortável pela
qualidade da sua voz e estivesse frequentemente a completar as suas
frases, interrompê-lo ou a pedir-lhe para repetir? Da mesma forma, a
reflexão deve ser feita do ponto de vista da criança com uma perturbação
da fluência.
Ensinar e ajudar a criança a compreender quem ela é enquanto indivíduo que gagueja e estimulá-la a adaptar e adotar estratégias que promovam a redução de tensão e aumento da fluência, poderá
representar um fator preponderante na construção saudável da sua
identidade e aumento da qualidade de vida em todos os seus contextos.
Artigo desenvolvido por
Ana Beirão, terapeuta da Fala
PIN - Centro de Desenvolvimento
Para usufruir deste desconto apresente esta página.
Fique a par, todas as semanas, dos melhores programas e atividades para fazer com os mais novos