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ÀS VOLTAS COM O COMPORTAMENTO - PAIS E FAMÍLIAS À PROCURA DE SENTIDO(S)
ÀS VOLTAS COM O COMPORTAMENTO - PAIS E FAMÍLIAS À PROCURA DE SENTIDO(S)
Educação | Fonte: PIN - Centro de desenvolvimento
A chegada a uma consulta de psicologia dirigida aos pais e aos filhos quando algo parece estar desafinado, como na música do sempre grande João Gilberto, que atravessa na sua obra outras coisas fundamentais da vida, tem quase sempre em comum esta procura de sentido por parte dos pais para o que se passa e porque existem tantas vezes comportamentos mais extremos, opositores, que geram grandes níveis de conflito, que implicam experiências difíceis, e até muitas vezes ruturas, para o sentido de ser "pai", "mãe" e "família".
Muitas vezes, a procura de sentido começa no pedido de ajuda que implica uma etapa inicial com os pais, com a família, com a escola. Que sentidos se atribuem quanto ao que se passa com a criança ou o jovem? Que motivos foram atribuídos ao que a criança faz?
Alguns destes pontos iniciais são comuns, por exemplo, que a criança que não responde, não olha ou não "liga" aos pais ou está "ligada à corrente". Que está "apenas" a ser provocadora, manipuladora, ou, que em alguns casos tem prazer, que só responde ou reage porque o adulto que a acompanha "chegou ao limite". Até que... Os episódios de grande frustração, agressividade (dirigida a si ou aos outros) e as situações de risco frequente que tornam a vida diária num turbilhão necessitam de um novo olhar.
Por vezes, com o início da intervenção, a procura de sentidos continua ainda com dificuldade em agir de outras formas, que podem pôr em causa alguns sentidos ou ideais pessoais ou familiares.
Por exemplo, para algumas famílias poder estar apenas presente sem reagir, dar instruções, avisos ou atribuir desde logo algum tipo de consequências, pode significar à vista de outros e até deles próprios muitas coisas diferentes: a ausência de ligação ou de interesse, o confronto com a possibilidade de ser pai ou mãe e de simplesmente não saber o que fazer, poder parecer um contra-senso à própria função parental. Ou ainda que isto reforce ou seja uma validação de certos comportamentos mais extremos.
Outras vezes, é necessário voltar a referir que nenhuma criança escolhe não aprender, ou decide passar longos períodos em episódios de frustração exaustiva física e emocionalmente, decide não ter sucesso ou escolhe não interagir. Surgem também situações em que a criança é vista como "boa" ou "má", sendo assumido de forma por vezes automática, o facto de o comportamento ser intencional, sendo necessário refletir sobre a origem e impacto destes mecanismos de interpretação e resposta ao seu comportamento.
Faz por isso sentido no apoio às famílias, transmitir com alguma confiança que esta mudança é um passo importante, que implica olhar e acompanhar de novas formas os comportamentos que tantas vezes são desgastantes. Talvez este primeiro desafio seja por isso o maior para quem tem a agenda de educar, ensinar, proteger e dele dependem posteriores desenvolvimentos por exemplo, na forma de comunicar, regular e orientar a criança na sua individualidade e nas suas principais necessidades.
Face a esta necessidade de melhor compreender o comportamento quando este é opositor ou difícil para os pais e família para melhor intervir, há um conjunto de questões, ideias, "ou sentidos" com que frequentemente nos deparamos e que necessitam a meu ver de ser desafiados, questionados ou esclarecidos, nomeadamente:
- Perante comportamentos extremos de grande frustração ou desregulação a procura de uma causa ou situação desencadeante com a mesma intensidade, desvalorizando outras questões, pode conduzir a uma menor capacidade de resposta. Muitas vezes, estes episódios dependem de fatores em que muitos adultos nem reparam, relacionados com um estímulo ou nível de reatividade sensorial, com transições ou mudanças mais ou menos marcadas ou com necessidades individuais que se podem inserir num perfil específico de funcionamento e que se não forem identificadas e trabalhadas, dificilmente se irão alterar.
- Uma das maiores dificuldades em implementar respostas e estratégias dirigidas a problemas relacionados com o comportamento deve-se em parte à dificuldade ou resistência em implementar orientações clínicas ou respostas alternativas sempre que o défice ou a dificuldade é "apenas" no comportamento. É fundamental nestas situações, identificar esta dimensão do desenvolvimento como sendo tão importante como outras, como a leitura, a autonomia ou a motricidade, sendo uma área de que se fala muito menos e que se encontra relacionada com outros processos como a regulação emocional e a socialização, em que é esperado que tenham desde o nascimento até à idade adulta um ritmo intenso de desenvolvimento, e desta forma renovar o sentido e a necessidade de alargar respostas específicas a este nível. A presença de competências muito desenvolvidas em certas áreas (por ex. a nível cognitivo ou mesmo do vocabulário) não implica uma correlação direta na capacidade de autorregulação, na comunicação ou no relacionamento interpessoal. Esta diferença poderá ser justamente um sinal de alerta e implica que estas competências "menos visíveis" tenham de ser nomeadas e frequentemente ensinadas, sob orientação clínica ou especializada.
- O comportamento agressivo por parte da criança ou do adolescente, sendo um dos exemplos talvez mais conotados socialmente e associado à atribuição de sentidos e julgamentos de diversas ordens, relacionados por exemplo com o tipo de Parentalidade "que certamente é exercida", com o "caráter" ou com o "contexto de proveniência" da criança merece sobretudo e se com alguma repetição, um olhar técnico e clínico e da devida ajuda necessária, sabendo que sobretudo se for desproporcional ou mantido, indica invariavelmente uma dificuldade ou perturbação, frequentemente com origens e quadros que podem ser muito diversos.
- Os pais que lidam com etapas ou com comportamentos de marcada desregulação, frustração ou com níveis de reatividade emocional muito intensos podem ser dos maiores promotores de mudança neste sistema de funcionamento na criança. Não pelas suas tentativas na maioria dos casos terem sido desajustadas, mas pelas necessidades específicas que apresentam. Invariavelmente, da minha experiência, as famílias colocam em primazia perante esta indicação, o apoio clínico direto com a criança ou o jovem, mas estas dificuldades necessitam frequentemente numa etapa inicial de uma regulação externa centrada e promovida no contexto familiar e pelos pais, apoiados de forma específica através de intervenção parental, na promoção de estratégias e respostas que serão melhor desenvolvidas no seu contexto real.
Concluindo, o processo de acompanhar e ajudar a crescer nestes casos como pais e família, implica tantas vezes uma experiência de mudança, a coragem de atuar, de compreender e por vezes de receber e aceitar um diagnóstico e sobretudo a individualidade dos filhos. E este processo parece criar tantas vezes um sentido maior, em que nos encontramos, técnicos, família e criança num propósito comum.
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