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ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO NA INFÂNCIA
ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO NA INFÂNCIA
Educação | Fonte: PIN - Centro de desenvolvimento
Encosta-te a mim. Nós (ainda) não vivemos cem mil anos.
A ansiedade de (ou na!) separação é normativa. Não só pela idade (sabemos que pode ser mais comum em crianças até aos 4 anos, sensivelmente) mas também porque pode ser protetora e adaptativa! É importante que as crianças tenham algum receio em se separar das suas figuras de referências e com isso inibirem, até, alguns comportamentos de risco. É importante que as crianças reconheçam quem é o adulto seguro e previsível. É importante que as crianças possam ir explorando o mundo e as relações, vivendo as oportunidades que surgem, desenvolvendo-se sem que o medo as domine. Tal como é importante, e natural, que esse medo se possa ir esbatendo (ex.: espera-se que ao separar-se dos pais na entrada para a escola, o choro ou birra seja menos frequente e intenso e que a criança seja mais capaz de explorar o mundo à sua volta).
Ora, a perturbação de ansiedade de separação é mais, e maior, do que esse medo normativo. Isto é: os comportamentos (difíceis na separação) são mais intensos, mais duradoiros e pouco permeáveis à nova rotina. A perturbação de ansiedade parece cruzar, de forma impactante, o medo da perda com a ideia do perigo que se imagina existir aquando da separação de pessoas significativas: “não fiques muito longe”, “e se desapareces?” “onde vais estar?”, “e eu? Fico segura(o)?”, “preciso de ti, comigo”, “tenho medo de não ser capaz”, “ficares longe de mim pode ser muito perigoso”. Estes poderiam ser pensamentos de crianças (e também adultos!) com uma perturbação de ansiedade de separação.
Quando pensamos nesta perturbação temos de ter em mente alguns critérios que a definem: (1) o medo intenso e continuado, antes e durante a separação; (2) a crença, constante e emocionalmente intensa (criando tristeza, medo, preocupação) de que algo perigoso vai acontecer à pessoa que se afasta; (3) os comportamentos de evitamento dessas mesmas situações de separação (recusando convites, fazendo “birra” para não ficar na escola, para não ir dormir, chorando quando tem de se separar, recusa em participar em actividades que envolvam a separação ainda que durante algum tempo); (4) os comportamentos de segurança nos desafios à separação - exageram no contacto e proximidade com adulto de referência (ex.: “criança-sombra” - andam sempre atrás da pessoa adulta seja em casa, na rua, noutros momentos coletivos). Podem ainda surgir sintomas fisiológicos na antecipação ou no confronto com a separação (dores de barriga, estômago, vontade de vomitar, tremores, etc).
Importa considerar que a expressão desta dificuldade pode surgir nos mais diversos contextos - aliás, sempre que houver desafio na separação: ficar no quarto a brincar, com o adulto a cozinhar só se lá for verificar várias vezes se ele se mantém no mesmo lugar; dormir em casa de amigos… nem pensar; visitas de estudo seriam divertidas mas pode acontecer alguma coisa; ir a festas de anos sem os adultos é difícil ou impossível; ir com os adultos pode ser melhor, mas há que ficar bem perto deles e apenas a observar os outros meninos, etc.
Dito de outra forma: nada melhor do que “o lar doce lar” ou a “pele de quem me cuida. Bem pertinho”.
Claro está que, ao não colocarmos desafios (“porque nos parece que ele fica mais nervoso…” e isso também nos perturba!), o problema mantém-se. Com seriedade. Ainda mais sério por ser silencioso e por continuar sem ser trabalhado ao longo do crescimento.
Peça ajuda terapêutica quando estas dificuldades forem muito difíceis de gerir. Pode ainda ir colocando alguns desafios:
• Ir treinando as separações (breves momentos, contextos rotineiros, uns programados outros aleatórios) e desafios – “agora em vez de seres tu a procurar a mãe sou eu que te vou ver ao quarto, combinado?”;
• Modelar momentos de desafio, superação e vulnerabilidade - “Na primeira vez que fui passear com a escola, também fiquei nervosa. Mas ao mesmo tempo eu queria tanto ver aquelas coisas. Ainda bem que tentei!”;
• Desenvolver rituais de despedida simples, rápidos e sem prolongar o diálogo – “está tudo bem, eu sei que ficas bem. Até logo meu amor!”
• Ir criando oportunidades de separação, consistentes, sem desistir para ajudara criança a treinar os seus recursos de regulação e confronto (e.g. “vamos descobrir o que usaste para seres capaz!”);
• Cumprir as promessas [NB: tenha atenção ao que diz! Se há a promessa de um reforço final (prémio) que depois não surge ou que não se adequa ao desafio acaba por perder impacto].
Não desista: quando temos medo, muito medo, tentamos ao máximo impedir que o perigo se aproxime! É importante que o adulto não ceda a esse comportamento, porque ao fazê-lo confirma que afinal “ir embora deveria ser mesmo perigoso”!
Se olharmos, com cuidado, para esta expressão da ansiedade percebemos que a separação é vista como intolerável por estas crianças (e por vezes até pelos adultos à sua volta), que a rotina não modifica a resposta como se desejaria, e que a intensidade do comportamento atrapalha a vida das famílias.
Por isso, e pela nossa prática clínica, gostamos de olhar a perturbação de ansiedade de separação como um sinal de alerta: como é que, afinal, esta criança enfrenta desafios? Como se regula ou acalma? Porque é tão importante ter outra pessoa para se regular? O que torna tão insuportável a separação? O que estará esta criança a sentir/pensar para que ficar perto do adulto seja mais importante do que explorar, brincar, experimentar, descobrir novas relações?
E uma das questões com que mais nos confrontamos e que complexifica, e tanto, o trabalho terapêutico: o que acontecerá, então, quando de facto a experiência confirmar que acontece algo perigoso a alguém que amamos? Esta ponte entre o medo de perder (da perturbação de ansiedade de separação) e a perda efetiva associada ao processo de luto é algo com que muito nos temos deparado e a que muito nos temos dedicados.
Esperem pelas cenas dos próximos capítulos!
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