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A comunicação e o comportamento de mãos dadas na intervenção com as crianças
A comunicação e o comportamento de mãos dadas na intervenção com as crianças
Opinião | Sara Figueiredo, Psicóloga Especializada em Intervenção Precoce & Sónia Cardoso, Terapeuta da Fala
A preocupação das famílias com o atraso na linguagem e na fala, dificuldades de comunicação e comportamento, leva muitos pais a procurar ajuda especializada, nos primeiros anos de vida.
Muitas são as dificuldades relatadas: “não para quieto”, “é muito agitado”, “não consigo perceber o que quer”, “não dá atenção a nada”, “já não aguento estas birras”, “brinca sempre da mesma forma”, “não pode ser contrariado, tem de ser tudo como quer”, “se falasse seria mais fácil”.
É preciso dar atenção a estas preocupações. Os pais são quem melhor conhece a criança, devemos valorizar o que sentem.
Assim, após a identificação das dificuldades e prioridades da família é essencial começar a agir e AGIR CEDO!
Os primeiros passos da nossa intervenção têm por base explorar com os pais as rotinas da criança, e a forma como os podemos orientar, para minimizar o impacto que estas duas áreas, da comunicação e do comportamento, têm no funcionamento familiar.
Todas as questões a trabalhar com a criança devem ter por base os momentos de maior envolvimento, criando oportunidades para participar e desta forma potencializar as suas competências comunicativas e comportamentais. É importante transmitir aos pais que “este trabalho” se baseia na interação, em materiais, objetos, brincadeiras que os filhos gostam e tenham interesse. É imprescindível partilhar estratégias e explicar aos pais o porquê das nossas brincadeiras, dos momentos de silêncio, da surpresa repentina, da importância de por vezes não cedermos ao seu comportamento mesmo sabendo que pode originar uma “birra”.
Algumas sugestões, a ser implementadas em todos os contextos, podem ajudar neste percurso, quando os pais nos relatam estas situações:
“O meu filho não brinca, não para quieto, não dá atenção a nada... Os avós, tios e nós próprios comprámos os melhores brinquedos, mas ele só espalha ou alinha, não consegue fazer nenhum jogo.”
Retirar o excesso de brinquedos disponíveis. Então podem colocar poucos brinquedos ao alcance da criança, por exemplo dentro de uma caixa.
É importante que façam um jogo de cada vez, que comecem e terminem a brincadeira (que inicialmente pode ser apenas encaixar 2 ou 3 peças num jogo), no final devem arrumar, antes de ir buscar outra atividade.
Às vezes é necessário haver uma caixa vazia onde se arrumem os brinquedos depois de usar. Uma coisa de cada vez, começar e acabar e por fim arrumar!!
Insistir um pouco para que a criança se mantenha na mesma brincadeira, podemos iniciar com momentos prazerosos (brincadeira de cócegas com o pai) e ir introduzindo outras brincadeiras que o seu filho gosta menos.
“Mas não PEDE nada, é muito desenrascado (faz tudo sozinho), não fala…”
Devemos colocar alguns itens longe do alcance da criança, para que ela tenha de os pedir (comunicar). Iniciar com os seus alimentos e/ou brinquedos preferidos, pode ser um bom ponto de partida. É importante que a criança sinta não só necessidade de pedir, como seja persistente nestes momentos. Por exemplo, se adora bolachas, podem começar por aqui. Vamos colocá-las à sua vista, mas fora do seu alcance. Dê tempo à criança para que ela olhe para si e para as bolachas, que faça um gesto para as pedir, que vocalize ou diga a palavra. Só após um comportamento comunicativo (verbal ou não verbal) deve entregar-lhe o que ela quer.
“E quando aprendem a pedir com “dá”?”. Por vezes, usa dá para tudo e não consigo que diga a palavra do que deseja.”
Devemos valorizar o pedido da criança, acrescentar numa primeira fase o que ela quer “Dá a bolacha”, mas mais tarde, o silêncio pode ser uma boa estratégia para que a criança possa ter a oportunidade de juntar outra palavra ao “Dá”. Por exemplo, se o seu filho disse “Dá” e olhar para a BOLACHA, pode dizer “Dá a….” e esperar. Valorize todos os sons, sílabas e palavras mesmo que ainda não sejam percetíveis.
“Brinca sempre da mesma forma, põe os carrinhos em fila, nem conseguimos brincar com ela. Sempre que tentamos surgem birras intensas.”
Modificar as brincadeiras e interesses “sim ou não”, ou seja, devemos ou não contrariar?
Devemos ter em conta os interesses da criança, no entanto, a família não se deve acomodar por completo ao que ela quer e à forma como “brinca”. Por exemplo, na brincadeira com os carrinhos, se a criança só os alinhar, devemos mostrar-lhe que os mesmos também servem para brincar de outra forma. Assim, podemos colocar a mão à frente de um carrinho e dizer “pipipi, posso passar?” - (Enquanto se levanta a mão, como se fosse um portão). O objetivo é a criança começar a experimentar outras formas de usar os seus objetos/brinquedos.
Atenção, isto pode levar a birras intensas, temos de ser consistentes, previsíveis e “fortes”, para não desmotivar nestes momentos. Devemos pensar que estamos a ajudar a criança a tornar-se mais flexível às mudanças que surgem, quer nas suas brincadeiras como em outras situações do seu dia a dia.
“Sempre que tem de fazer alguma coisa é um desastre ... Não quer ir para o banho, depois não quer sair do banho… e é assim com tudo o que temos de fazer!”
Antecipar pode ser a chave de sucesso!
A criança está a ver televisão, mas está na hora de tomar banho? Como fazer?
Avise a criança que está quase na hora do banho, pode dizer “daqui a pouco tempo vamos desligar a televisão para irmos tomar banho”, esperamos um curto espaço de tempo, e voltamos a avisar pegando no comando para desligar a televisão (é difícil, mas tem de ser!). Preparar as mudanças é essencial, seja nas rotinas diárias, seja nos jogos ou brincadeiras.
Numa primeira fase, pode ser difícil para a criança compreender o pretendido, mas se o fizermos de forma consistente, ela vai acabar por antecipar e aceitar com maior facilidade estas mudanças.
O uso de suportes visuais (ex. imagens, desenhos…) pode ajudar a criança a compreender o que vai acontecer. Pode mostrar uma imagem do que a criança está a fazer e outra do que vai acontecer a seguir. Antecipar com ajuda visual pode fazer a diferença!
Não existe apenas uma estratégia eficaz, cada criança e cada família têm as suas necessidades e com ajuda especializada podemos traçar o melhor caminho. Por isso, os pais devem pedir ajuda e partilhar as suas preocupações atempadamente.
Apoiar as crianças pequenas e suas famílias é um caminho de descoberta. Um caminho que se pode tornar mais fácil se houver uma intervenção precoce!
Sara Figueiredo, Psicóloga especializada em Intervenção Precoce
Sónia Cardoso, Terapeuta da Fala
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